Oriente Médio


Outubro sangrento coloca em xeque guerras dos Estados Unidos


Tropa americana patrulha vila no Afeganistão em 19 de outubro de 2009
O mês de outubro de 2009 foi o mais violento no Iraque e no Afeganistão, palcos da "guerra contra o terror" promovida pelos Estados Unidos há quase dez anos. As mortes de iraquianos e americanos desestabilizam tanto os processos de transição política quanto a estratégia da Casa Branca de realocar recursos de uma guerra para outra. Direto ao ponto: Ficha-resumo)

O caso mais grave aconteceu na capital do Iraque. Um duplo atentado terrorista matou 155 pessoas, incluindo 24 crianças, e deixou centenas de feridos na explosão de carros-bomba em prédios do governo em Bagdá. Foi o pior ataque em dois anos.

As explosões, ocorridas no último domingo (25 de outubro), teriam como objetivo emperrar discussões sobre a reforma eleitoral, que vai regular as eleições marcadas para janeiro. Os atentados também aumentaram a tensão com os países vizinhos, principalmente a Síria, acusada pelo governo iraquiano de abrigar terroristas.

No dia seguinte, 14 americanos morreram na queda de helicópteros no Afeganistão. Na terça-feira (27), foram registradas mais oito baixas em confrontos, subindo para 55 o número de mortes no mês.

Os incidentes aconteceram a poucos dias do segundo turno das eleições presidenciais, marcado para 7 de novembro. O pleito será disputado entre o atual presidente, Hamid Karzai, e o ex-ministro de Relações Exteriores, Abdullah Abdullah. No primeiro turno, houve denúncias de fraudes.

As eleições no Iraque e no Afeganistão visam trazer estabilidade política aos países, ponto considerado fundamental para que os Estados Unidos encerrem as ocupações. Mas os ataques terroristas no Iraque e o crescimento do índice de soldados mortos no Afeganistão (num ano já considerado o mais mortífero desde o início da guerra) complicam ainda mais a situação no Oriente Médio.

A violência também afetou a estratégia do presidente Barack Obama de transferência dos recursos do Iraque para o Afeganistão. Nas próximas semanas, Obama deve decidir se aumenta o efetivo em mais de 40 mil soldados no território afegão. Porém, ele enfrenta oposição de quase metade da população americana e de setores do próprio governo, que duvidam que o reforço militar irá contribuir para trazer mais segurança ao país mulçumano.

Petróleo
Juntas, as guerras do Iraque e Afeganistão já mataram mais de 5 mil americanos e somam, segundo relatório do Congresso dos Estados Unidos, US$ 864 bilhões de gastos aos cofres públicos (74% deste total no Iraque, 22% no Afeganistão e os 4% restantes em gastos diversos). Especialistas estimam que as despesas irão ultrapassar US$ 1 trilhão, em plena época de recessão econômica.

Passados nove anos de guerra no Afeganistão e sete no Iraque, a impressão hoje é a de que os Estados Unidos subestimaram a resistência dos radicais mulçumanos e se meteram em outro atoleiro. Os dois conflitos já são mais longos que a participação dos americanos na Primeira (dois anos e dois meses) e Segunda Guerra Mundial (três anos e oito meses) e na Guerra da Coreia (três anos e um mês). E, por enquanto, somente inferior à participação na Guerra do Vietnã (doze anos).

As batalhas foram iniciadas no governo de George W. Bush (2001-2009), na sequência dos atentados de 11 de Setembro. A campanha militar no Afeganistão começou em 7 de outubro de 2001, com o objetivo de capturar Osama Bin Laden, líder da rede terrorista Al Qaeda. No caso do Iraque, a invasão em 19 de março de 2003 foi justificada pela suposta posse de armas de destruição em massa pelo governo de Saddan Hussein, que nunca foram encontradas.

De modo geral, a administração Bush alegava que as incursões militares tinham a intenção de democratizar os países, que viviam sob ditaduras, e combater os grupos terroristas. Especialistas, por outro lado, apontam interesses econômicos em reservas de petróleo e derivados como a principal razão por trás da "guerra contra o terror".

Mas por que essas guerras duram tanto tempo e por que é tão difícil encontrar uma saída para os conflitos?

Taleban
Tanto o Afeganistão quanto o Iraque são países divididos por grupos étnicos e religiosos que viveram séculos sob ocupação estrangeira e nunca conheceram a democracia ocidental ou uma paz duradoura. São também terras ricas em minérios e que ocupam posições estratégicas na geopolítica do Oriente Médio, o que desperta a cobiça de grandes potências mundiais.

Localizado na Ásia central, o Afeganistão faz fronteira com Paquistão, Irã e China. O país possui 32,7 milhões de habitantes, 70% vivendo em condição de pobreza. O que une os diferentes grupos étnicos é a religião mulçumana (80% sunita e o restante xiita).

A maior renda vem do ópio (matéria-prima da heroína), pois o Afeganistão concentra 93% da produção mundial dessa substância, que corresponde a 30% do Produto Interno Bruto (PIB), além de ser a principal fonte de financiamento do Taleban.

Durante a Guerra Fria, o país permaneceu vinte anos sob ocupação da ex-URSS (1979-1989). Neste período, os mujahedin (combatentes islâmicos) receberam apoio da CIA, o serviço secreto americano, para lutar contra as tropas russas.

Quando, finalmente, o Exército Vermelho deixou Cabul, a capital, estourou uma guerra civil entre facções rivais. As lutas só terminaram após o Taleban, grupo nacionalista mulçumano de etnia pashtu, tomar o poder em 1996. Hoje, estima-se que os extremistas ainda controlem até 70% das terras afegãs.

Saddam
Já o Iraque possui uma das culturas mais antigas do mundo, que remonta há 10 mil anos. O território abrigou as primeiras civilizações humanas, que criaram o alfabeto cuneiforme e o primeiro código de leis, a Lei do Talião ("olho por olho, dente por dente").

Diferente do Afeganistão, a maior parte dos 31,2 milhões de habitantes são mulçumanos xiitas (60%), embora os sunitas tenham governado o país ao longo da história.

O Iraque ficou quase quatro séculos sob domínio do Império Otomano (1533-1918), até que a região foi dividida ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e o país se tornou colônia do Reino Unido. O período monárquico durou de 1921 a 1958, quando a família real foi assassinada, depois de um golpe de Estado.

Em julho de 1968, um novo golpe, conduzido pelo Partido Socialista Árabe Baath, levou ao poder o líder sunita Saddam Hussein, primeiro como vice-presidente e, a partir de 1979, como presidente. Os 24 anos de regime de Saddam foram marcados pelo culto à personalidade, perseguição a etnias (curdos e xiitas) e massacres, incluindo três guerras no Golfo Pérsico.

A primeira Guerra do Golfo foi travada contra o Irã (1980 a 1988) depois que a Revolução Islâmica, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khoemini (1900-1989), depôs a monarquia iraniana, alinhada ao Ocidente. O ditador iraquiano tinha então apoio financeiro de Washington.

Endividado ao final dos conflitos, Saddan invadiu o Kuwait em 1990, país vizinho credor e rico em petróleo. Uma coalizão militar internacional, tendo à frente os Estados Unidos, expulsou o exército iraquiano do Kuwait. Seguiu-se um período de sanções econômicas até a terceira guerra no Golfo, em 2003, contra os americanos.

Retirada
Para os Estados Unidos, o maior triunfo das atuais guerras foi a captura de Saddan Hussein, em dezembro de 2003. O ditador estava escondido em um buraco após ter escapado do cerco à capital. Ele foi julgado, condenado à morte e enforcado em 31 de dezembro de 2006.

No entanto, a justificativa fraudulenta para a invasão do Iraque e o escândalo de abusos contra detentos na prisão iraquiana de Abu Ghraib mancharam a imagem dos EUA perante o mundo.

Com o Iraque ocupado e alvo de sucessivos ataques terroristas, realizaram-se em 2005 as primeiras eleições presidenciais e parlamentares. Neste ano, Obama anunciou a desocupação total até o final de 2011 e, em junho, o exército americano deixou as ruas, que passaram a ser patrulhadas por forças iraquianas.

Para Cabul, prioridade atual do governo americano, o plano também é garantir que o governo local tenha condições de manter o controle após a retirada das tropas. O problema, tanto no Iraque quanto no Afeganistão, é que os americanos não são vistos como "salvadores da pátria" por libertarem os países das ditaduras de Saddan e do Taleban, mas como invasores.

Quase uma década depois, os Estados Unidos não conseguiram pacificar o Iraque nem capturar Osama Bin Laden. Nem é certo que os países invadidos não mergulhem novamente em guerras civis e étnicas após os americanos deixarem o front, nem que a Al Qaeda, um grupo que age internacionalmente, não volte a atacar. Em todos os cenários mais realistas, serão guerras perdidas para o Tio Sam.

Violência no Rio de Janeiro



Desafio do Estado é vencer o tráfico


A CPI da Violência Urbana da Câmara Federal ouviu Cláudio Chaves Beato Filho, da UFRJ, em 21/10/2009
Quinze dias após ter sido escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o Rio de Janeiro voltou a ser notícia na imprensa internacional. Desta vez, por conta de um velho problema: a violência urbana. Direto ao ponto: Ficha-resumo

No dia 17 de outubro de 2009, traficantes atiraram contra um helicóptero da polícia. O piloto tentou fazer um pouso forçado, mas a aeronave explodiu, matando três policiais. O atentado aconteceu durante uma tentativa de invasão ao morro dos Macacos, Zona Norte, por criminosos do Comando Vermelho, que dominam o tráfico no morro vizinho.

Além dos policiais, três trabalhadores e mais 19 bandidos morreram, totalizando 25 mortes em quatro dias. Os criminosos também queimaram oito ônibus, para desviar a atenção da polícia.

Apesar de grave, o episódio não é novidade no cotidiano carioca. Em 16 de novembro de 1984, outro helicóptero da polícia foi derrubado em uma operação no morro do Juramento. Confrontos entre traficantes e policiais também são frequentes desde que as autoridades resolveram retomar territórios controlados pelo tráfico.

O que chamou a atenção foi o fato ocorrer logo após a cidade ter ganhado a disputa para sediar os Jogos Olímpicos. Isso levou a imprensa estrangeira a questionar a capacidade do governo carioca em oferecer segurança aos atletas durante o evento.

Os Jogos Olímpicos podem até forçar o Estado a resolver, em sete anos, um problema que já dura 25. Mas a questão mais importante hoje é como o governo pode oferecer segurança para a população, acuada nos conflitos armados entre policiais e bandidos.

Com o recrudescimento da situação, neste mês de outubro, a Comissão Parlamentar de Inquérito da Violência Urbana da Câmara Federal ouviu Cláudio Chaves Beato Filho, coordenador-geral do Centro de Estudos de Criminalidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o deputado federal Fernando Gabeira.

Tráfico de drogas
O Rio de Janeiro é a segunda maior cidade do país, com 6,2 milhões de habitantes. A metrópole, que foi capital do Brasil de 1763 até 1960, é também o principal destino de turistas estrangeiros. Por isso, funciona como uma espécie de "vitrine" do país para o mundo.

A violência urbana no município é associada ao tráfico de drogas. De acordo com dados de 2008 do Ministério da Justiça, o Rio de Janeiro é o quinto estado brasileiro com maior taxa de homicídios, com 33 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, ficando atrás de Alagoas (66,2), Espírito Santo (56,7), Pernambuco (48,5) e Pará (39,8).

Por outro lado, possui, de longe, a polícia que mais mata. Em 2008, foram 1.137 mortos em confrontos com a polícia, taxa sete vezes maior que qualquer outra região do país. Os gastos totais em segurança somam 12% do orçamento do Estado, quase o dobro de São Paulo (7,4%) e pouco menor que o de Minas Gerais (12,5%).

Mas o tráfico, por si só, não justifica o alto índice de criminalidade. Praticamente todas as grandes metrópoles do mundo possuem comércio ilegal de drogas. Estima-se que o mercado consumidor de cocaína em Nova York, por exemplo, seja duas vezes maior que o Rio. A diferença é que nem a cidade americana nem outras europeias testemunham quase que diariamente cenas de guerra nas ruas, como acontece no Rio. Como explicar isso?

A resposta é que, no Rio, facções armadas travam lutas pelo controle de territórios, favorecidas por uma rede de corrupção e pelo descaso histórico do poder público em relação às favelas nos morros cariocas.

Para que a situação chegasse a esse ponto, cinco fatores foram decisivos: o aumento da oferta e demanda no mercado da cocaína, o surgimento das facções criminosas durante o regime militar (1964-1985), o crescimento das favelas, a corrupção de setores públicos e privados e medidas repressivas e eleitoreiras sem efeito prático.

Comando Vermelho
Até meados dos anos 1970, o tráfico de drogas no Rio se restringia à venda de maconha, plantada no Nordeste do país, para presos, favelados e boêmios, num esquema amador. Entre o final dos anos 1970 e começo dos 1980, a cocaína colombiana chegou ao país a preços acessíveis, proporcionando lucros rápidos e altos para as quadrilhas. Era o início da era do tráfico de drogas internacional, que tornaria a América Latina o principal produtor e exportador de cocaína no mundo.

Para organizar o tráfico e controlar os pontos de vendas no varejo, facções criminosas surgidas nos presídios passaram a disputar os territórios nos morros, objetivando ampliar o mercado e obter ganhos maiores. Quanto mais próximo o morro está de bairros de classe média, ou seja, do consumidor, mais valorizado é o ponto. E, como o negócio é ilegal, os métodos violentos dos traficantes cariocas foram adotados tanto para cobrar devedores e intimidar moradores, quanto para proteger as "bocas" de concorrentes.

A primeira facção surgiu durante a ditadura militar. Com o aumento de assaltos a bancos e sequestros para financiar guerrilhas de esquerda, o governo decretou, em 1969, a Lei de Segurança Nacional. Com isso, alguns presos políticos foram levados para o Presídio de Ilha Grande, desativado em 1994, onde dividiam as celas com presos comuns.

Com o tempo, os detentos passaram a incorporar as táticas dos prisioneiros políticos para dominar a população carcerária. Foi desse modo que, nos anos 1970, nasceu a Falange Vermelha, mais tarde chamada de Comando Vermelho.

Fora dos presídios, os bandidos começaram a planejar assaltos e sequestros para financiar a libertação de líderes presos e garantir regalias dentro das penitenciárias. Com a chegada da cocaína, passaram também a coordenar o tráfico de drogas, mais rentável e, de certo modo, mais seguro, se comparado a outras modalidades de crimes.

A partir de 1986, disputas internas no Comando Vermelho levaram à criação de facções rivais, como o Terceiro Comando e o Amigos dos Amigos, o que gerou mais violência. Os traficantes começaram a se equipar com armamento cada vez mais pesado, de uso exclusivo das Forças Armadas, e a cooptar "soldados" e "vapores" (vendedores de drogas) cada vez mais jovens entre as comunidades.

Os donos do morro
Nesse sentido, as favelas dos morros cariocas desempenharam uma função estratégica para os traficantes. Elas cresceram durante os anos 1960, quando o Rio viveu um processo de rápida urbanização e migração, sem que houvesse um planejamento econômico para atender a população.

Na ausência do Estado, os donos do morro - como são conhecidos os traficantes responsáveis pela distribuição de drogas no varejo - se tornaram as figuras mais importantes dentro das favelas. Em troca do silêncio dos moradores, os traficantes mantém a ordem e praticam o assistencialismo, distribuindo produtos como remédios e cestas básicas, além de promoverem festas e bailes funks.

A carência ainda forneceu às quadrilhas mão de obra barata para o negócio ilegal. Para milhares de jovens, sem oportunidades de estudo ou emprego, o tráfico se tornou a única via de acesso a bens de consumo e até mesmo de sustento para suas famílias. Outros fatores, como o glamour do banditismo e o vício em drogas, também acabaram envolvendo jovens de classe média e alta no crime organizado.

Outra vantagem importante que os morros oferecem aos traficantes é a topologia. Do alto das favelas, os bandidos conseguem monitorar a entrada de viaturas policiais e se prevenir. A ocupação irregular das favelas (são cerca de 800), com ruas estreitas, becos, esconderijos e dezenas de entradas e saídas, também dificulta o trabalho da polícia.

Corrupção
Os maiores líderes da facção, porém, estão em presídios de segurança máxima, de onde ainda controlam o tráfico e outras atividades criminosas, por meio de aparelhos celulares e visitas de parentes e advogados.

Por esta razão, outro componente importante na engrenagem do tráfico é a corrupção de órgãos do governo e instituições privadas. O dinheiro do tráfico financia desde a proteção de policiais e conivência de agentes penitenciários até a compra de sentenças de juízes.

Apesar de os donos do morro ficarem famosos na imprensa, como no caso do traficante Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP (veja livro indicado abaixo), quem alimenta o tráfico carioca são os atacadistas. Eles possuem contatos e influência junto a governos, empresas e instituições bancárias, para conseguirem lavar o dinheiro resultante do comércio ilícito de drogas.

São os atacadistas que fazem o tráfico internacional, tanto de drogas quanto de armas, e poucos são os traficantes que conseguem atingir essa posição. Estima-se que somente 20% da cocaína que chega ao Rio abasteça o mercado interno; a maior parte tem como destino a Europa.

Como resolver
Nos últimos anos, com a violência cada vez mais próxima da classe média e a consequente mobilização de setores da sociedade civil, os governos tiveram que mudar de estratégia. Chegou-se à conclusão de que era preciso retomar a presença do Estado nos morros, por intermédio da polícia comunitária, e do combate à exclusão, com programas sociais.

Porém, a solução para a criminalidade no Rio de Janeiro, que, conforme visto, possui raízes históricas e atravessa sucessivas administrações, não é fácil ou rápida. Por outro lado, também não existe nenhuma fórmula mágica que precise ser descoberta.

Segundo especialistas, a solução envolve duas frentes contínuas de ação: uma policial e outra social. Na policial, o foco na repressão e reação aos ataques tem efeitos colaterais indesejáveis, com a morte de policiais e pessoas inocentes em tiroteios com traficantes. Para evitar isso, seriam necessários investimentos em inteligência e operações preventivas.

Mais importante que a polícia concentrar esforços no combate ao varejo é a investigação dos atacadistas. De nada adianta a polícia prender os chefes do tráfico, pois eles são substituídos por outros ou continuam liderando os grupos de dentro dos presídios. Sendo assim, seria mais eficiente sufocar as rotas de comércio ilegal de armas e drogas, impedindo que os produtos cheguem aos morros.

Para se chegar a esses atacadistas, serão necessários mecanismos mais rigorosos de controle da corrupção, que passam pela investigação de redes de lavagem de dinheiro e a punição de empresários, políticos, funcionários públicos e juízes envolvidos com o tráfico, conforme apontado pela CPI do Narcotráfico.

Do ponto de vista social, o governo precisa oferecer alternativas de renda viáveis e concretas para os jovens que moram nas favelas. Com oportunidades de emprego, boa parte deles deixaria de ser mão de obra para as quadrilhas nas favelas.

Espera-se que, pelo menos com a visibilidade que o Rio ganhará com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, um passo seja dado nessa direção.

ENEM - 2009

Desmatamento em pauta, com urgência

Os números do desmatamento na Amazônia registram queda de 88% em maio deste ano em relação ao mesmo período de 2008, segundo matéria publicada na Agência Brasil. Este ano, o desmatamento atingiu uma área de 123 km², de acordo com relatório do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No ano passado, o Inpe registrou 1.096 km² de desmate.

Ainda segundo o relatório, a cobertura de nuvens na região no período permitiu a visualização de 38% da área, situação melhor do que nos três meses anteriores, quando os satélites só conseguiram observar cerca de 20% da floresta por causa das nuvens.

Mesmo com boas notícias, velhos problemas continuam intactos. O Mato Grosso voltou a liderar a lista de maiores desmatadores, com 61,2 km² de florestas derrubadas em maio, cerca de 50% do total verificado no mês em toda a região. No entanto, o Inpe pondera que a taxa de desmate foi elevada por causa da baixa quantidade de nuvens sobre o território mato-grossense, que deu boas condições de observação, diferentemente do que ocorreu em outros estados.

Em Roraima, foram desmatados 17,7 km² e no Maranhão, 17,6 km². Os estados de Rondônia e do Pará, que ocupavam os primeiros lugares nos últimos rankings, só aparecem em seguida, com 11,7 km² e 10,5km² de devastação, respectivamente. A medição do Deter considera as áreas que sofreram corte raso (desmate completo) e as que estão em degradação progressiva. O sistema serve de alerta para as ações de fiscalização e controle dos órgãos ambientais. A redução verificada pelo Deter deve ter influência na taxa anual de desmatamento, medida pelo Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes). O número atual é de 11,9 mil km².

Mas, apesar dos ares importantes de mudança, é importante ressaltar que as estatísticas do desmatamento na Amazônia ainda são bastante preocupantes, especialmente porque durante décadas os níveis de desmatamento se mantiveram assustadores, e ainda o são. De agosto de 2008 até maio de 2009, o Deter já registrou 2.957 km² de desmatamento na região. Ou seja, pode-se comemorar, mas com moderação e consciência, já que a queda foi verificada sobre índices altíssimos. Ainda estamos muito distantes do ideal, já que, ao invés de recuperar, ainda estamos na fase de perder áreas de florestas.

Um exemplo prático disso foi uma outra notícia, apresentada ao Ministério do Meio Ambiente na terça-feira. Um estudo de organizações não governamentais, revelado ontem ao ministro da pasta, Carlos Minc, revela que o Pantanal já perdeu 40% de sua cobertura vegetal. Elaborado pelas ONGs WWF Brasil, SOS Mata Atlântica, Conservação Internacional, Anvina e Ecoa, o mapeamento mostra que o bioma tem sofrido forte pressão em função de atividades como pecuária, plantio de cana e exploração mineral.

Segundo o estudo, a ampliação das pastagens, que tem sido muito discutida após a divulgação do relatório A Farra do Boi (do Greenpeace), é uma das principais causas do desmatamento na região. Em seis anos, (2002 a 2008) já foram abertos 12 mil Km2 de novos pastos na região, o equivalente a dez vezes a área do estado do Rio de Janeiro. De acordo com uma matéria publicada no site Ambiente Brasil, Minc destacou a importância do levantamento e disse que é necessário agir rapidamente para evitar que a situação no bioma Pantanal se agrave. O ministro afirmou ainda que o MMA já iniciou o monitoramento por satélite do desmatamento no bioma e vai articular com apoio da sociedade civil estratégias de ações para atuação na região. Ele também considerou fundamental que seja realizado um planejamento integrado da bacia hidrográfica do Alto Paraguai cujas águas formam o Pantanal mato-grossense, uma das maiores planícies de inundação do mundo.

ENEM - 2009

Entenda como a crise econômica afeta o Brasil



A crise no sistema bancário nos Estados Unidos tem provocado quedas generalizadas nas bolsas de todo mundo e muitas dúvidas sobre a economia global.

A Bolsa de Valores de São Paulo também vem sofrendo com grandes quedas, o valor do dólar voltou a subir e o crédito internacional ficou mais difícil.

A seguir a BBC Brasil faz um resumo de alguns dos principais canais pelos quais a economia brasileira está sendo, ou pode ser, afetada.

Menos crédito

Uma das principais vias de contágio da crise internacional se dá por meio da falta de crédito. Com a crise atual, há menos dinheiro no mercado e bancos em todo o mundo estão mais cautelosos, têm diminuído seus empréstimos e cobrado mais caro por eles.

Na opinião do economista Nathan Blanche, da consultoria Tendências, é nessa área que está o maior perigo para a economia brasileira no médio e longo prazo. "As empresas devem conseguir continuar rolando suas dívidas, mas o mercado está mais difícil e algumas devem inclusive optar por não buscar dinheiro novo", afirma ele.

Atualmente a dívida externa brasileira é da ordem de US$ 200 bilhões, sendo que a maior parte está na mão de empresas privadas. Mas o valor que vence até o final de 2008 é bem menor - em torno de US$ 15 bilhões. Para especialistas, as empresas que quiserem renovar essas dívidas terão que arcar com taxas mais altas de juros.

Os bancos brasileiros também já estão encontrando taxas muito altas para tomar empréstimos no exterior. A expectativa é que essa situação afete o crescimento do crédito no Brasil, de forma geral, e a capacidade de investimento das empresas, em particular. A falta de crédito internacional também pode afetar empresas estrangeiras que planejam fazer investimos diretos no Brasil.

A dúvida entre os especialistas é a intensidade desse enxugamento do crédito. O governo brasileiro tem se mostrado preocupado com o assunto e afirma que poderá criar alternativas de crédito com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros bancos públicos.

Bolsa

A Bovespa tem sofrido sucessivas quedas e nos primeiros nove meses do ano já havia acumulado perdas da ordem de 25% (com a volatilidade, esses valores têm mudado muito rapidamente).

O impacto dessas quedas na economia em geral é limitado pelo tamanho da bolsa brasileira. Apesar do crescimento dos últimos anos, a Bovespa ainda tem um número relativamente pequeno de empresas, com 397 companhias listadas. A Bolsa de Valores de Nova York, por exemplo, tem 2.365.

Além disso, embora o montante de dinheiro negociado na bolsa brasileira seja alto, há uma grande concentração em grandes empresas como a Petrobras e a Vale. Apenas essas duas empresas têm representado em média 40% do valor negociado na Bovespa neste ano.

Apesar disso, a queda nas bolsas afeta a economia real por pelo menos duas vias: quem investiu na bolsa tem menos dinheiro para gastar, e as empresas têm que procurar outras fontes de financiamento.

A Bovespa conta com cerca de 500 mil investidores como pessoas físicas. Além disso, houve uma grande queda de IPOs, os lançamentos iniciais de ações das empresas. Em 2007, foram lançadas na Bovespa 64 novas empresas. Até setembro de 2008, tinham ocorrido apenas quatro IPOs.

Dólar

Após quedas recordes da moeda americana em julho, o dólar voltou a se valorizar de forma crescente a partir de agosto de 2008. Mas qual o impacto dessa subida?

Por um lado, o dólar mais forte pode, caso a alta se sustente, ajudar os exportadores a se tornarem mais competitivos, o que é celebrado por vários empresários e economistas.

Por outro, a alta pode atrapalhar no combate a inflação. Segundo cálculos da consultoria Tendências, cada variação de dez pontos percentuais no dólar tende a gerar um ponto percentual de elevação trimestral do índice de inflação IPCA. Desde o começo de 2008 até meados de setembro, a alta acumulada do dólar estava variando entre 5% e 6%.

Essa alta, avaliam especialistas, pode pesar na avaliação do Banco Central sobre a subida dos juros.

Comércio exterior

Nos últimos cinco anos, o Brasil tem tido grandes superávits na balança comercial (exportações maiores do que as importações) e um aumento crescente dos valores vendidos no exterior. Segundo dados do Banco Central, as exportações saltaram de US$ 73 bilhões, em 2003, para US$ 160 bilhões, no ano passado. Em 2006, o Brasil teve um superávit recorde de mais de US$ 46 bilhões.

Uma parte desse aumento se deve à subida dos preços dos produtos brasileiros no externo e não à venda de mais produtos. Agora o preço das commodities agrícolas e minerais, grande responsáveis pela melhora nos valores, estão caindo.

Além da queda dos valores, existe a expectativa de que o crescimento mundial diminua, especialmente em 2009, o que deve significar menos comércio internacional e o risco de uma redução das exportações brasileiras.

Por outro lado, a desvalorização do real pode tornar os produtos brasileiros mais competitivos e derrubar as importações.

Apesar das mudanças no cenário internacional, o governo brasileiro tem mantido suas estimativas para 2008, com um forte aumento das exportações, na casa dos US$ 190 bilhões, e um superávit comercial de mais de US$ 20 bilhões.

A dúvida entre os economistas é como ficarão as contas em 2009. Para a maioria dos analistas, o fiel da balança será o desempenho das economias emergentes, especialmente a da China e a da Índia.

Exportações e a economia real

Se as exportações ou o valor das commodities caírem muito, as principais afetados serão as empresas exportadores. O impacto sobre o restante da economia é limitado pelo fato de o país ser relativamente fechado: o setor exportador responde por cerca de 14% do PIB. Além disso, o Brasil vende para muitos países diferentes e tem uma pauta diversificada, com produtos manufaturados representando mais de 50% das vendas.

Outro aspecto positivo para o Brasil é que o mercado interno brasileiro está aquecido e tende a absorver pelo menos parte de uma eventual queda de produtos exportados.

Uma queda ou desaceleração nas exportações é visto como um risco maior porque pode afetar o equilíbrio das contas externas. O risco maior seria para 2009. A expectativa oficial para 2008 é que Brasil tenha que cobrir um buraco de US$ 24 bilhões nas contas externas - o que deverá ser feito pela soma entre o superávit comercial e os investimentos externos no país. Para 2009, a previsão é que o rombo passará dos US$ 30 bilhões.

Alguns economistas já fazem avaliações bastante pessimistas, apostando que o superávit brasileiro poderia cair abaixo dos US$ 5 bilhões no ano que vem. Isso tornaria a economia mais dependente de investimentos externos para fechar suas contas e mais vulnerável.

Para o governo, a expectativa de que os investimentos estrangeiros serão mantidos e reservas internacionais de mais de US$ 200 bilhões garantem que o Brasil não sofra grandes riscos no médio prazo.

Crescimento

Um dos poucos consensos entre os economistas em meio à atual crise é que a economia brasileira deve diminuir seu ritmo de crescimento. Para Antônio Madeira, da consultoria MCM, mesmo com todas as mudanças, o PIB brasileiro deve subir por volta de 5,5% em 2008. Para 2009, ele acredita que esse número deve ficar entre 3,8% e 3,5%.

Os números variam um pouco dependendo da fonte, mas a grande maioria dos analistas trabalha com faixas parecidas.

O motivo da queda é que mesmo que o Brasil não seja muito atingido pela crise externa, as diferentes fontes de contaminação devem contribuir para derrubar a atividade econômica. Além disso, o próprio BC brasileiro está com uma política de aumentos de juros com o objetivo de reduzir o crescimento no ano que vem.

Para mais notícias, visite o site da BBC Brasil

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ENEM - 2009

Relatório da ONU estima que 3 bilhões sofrerão com escassez de água no planeta em 2025



RIO - Mais da metade da população mundial - cerca de três bilhões de pessoas - sofrerá escassez de água em 2025, revela relatório divulgado na quinta-feira pela Unesco, a agência da ONU para Educação, Ciência e Cultura. Se as atuais tendências continuarem, incluindo as secas, o aumento populacional, a crescente urbanização, a mudança climática, a proliferação indiscriminada do lixo e a má administração dos recursos, o mundo se dirigirá para uma catástrofe. Estes novos problemas estarão na agenda de uma importante conferência internacional, o Quinto Fórum Mundial da Água, que acontecerá em Istambul, Turquia, entre 16 e 22 deste mês.

" Com recursos cada vez mais escassos, o gerenciamento correto e o consumo sustentável se tornam essenciais para que se mantenha o acesso às fontes de água, evitando o agravamento da fome no planeta "

- Com recursos cada vez mais escassos, o gerenciamento correto e o consumo sustentável se tornam essenciais para que se mantenha o acesso às fontes de água, evitando o agravamento da fome no planeta - diz diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsura.

Publicado a cada três anos, o relatório atual enfatiza a importância da água no desenvolvimento e crescimento econômico. Na África, destaca o documento da Unesco, meio bilhão de pessoas ainda sofre com a falta de condições básicas de saneamento.

Esse panorama se reflete no fato de que 80% das doenças nas nações em desenvolvimento estão relacionados com a água, causando cerca de três milhões de mortes precoces por ano. Cinco mil crianças morrem por causa da diarréia a cada dia no mundo, sendo que cerca de 10% das doenças poderiam ser evitadas com medidas básicas de saneamento e higiene.

Crescimento populacional significa também mais pressão na agricultura, setor que mais consome água no planeta (cerca de 70%). Caso os atuais métodos de irrigação do solo não sejam aprimorados, a demanda do setor agrícola por água vai aumentar entre 70 e 90% até 2050.

Apesar de ser o país com a maior reserva de água doce do planeta, o Brasil não está imune aos problemas de escassez e mau uso, principalmente no setor agrícola, onde o desperdício é muito grande. Quem garante é José Antonio Frizzone, professor da USP e coordenador do recém-criado Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Engenharia de Irrigação, que vai, segundo ele, "estudar o uso racional da água na agricultura".

- A água é mal utilizada por todos os setores da economia, em particular na irrigação, onde ela é utilizada com baixa eficiência - explica o especialista. - O Brasil ainda está muito aquém de uma produção agrícola sustentável.

Importação de lixo Destino dos dejetos é grande desafio ambiental

A descoberta de contêineres provenientes do Reino Unido, com 1.500 toneladas de lixo tóxico, nos portos de Santos (SP) e do Rio Grande do Sul, é apenas uma amostra de um dos maiores problemas enfrentados pelo mundo globalizado. O destino do lixo produzido pela sociedade tornou-se um negócio que movimenta bilhões de dólares e envolve desde empresas lícitas até o crime organizado. (Direto ao ponto: Ficha-resumo)

Lixo tóxico é todo tipo de material descartado que traz riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Por isso, precisa receber um tratamento adequado para ser jogado fora. Ele compreende desde pilhas, lâmpadas fluorescentes e remédios vencidos do lixo doméstico comum, até lixo hospitalar, industrial e nuclear.

O carregamento que chegou aos portos brasileiros estava "disfarçado" numa carga de lixo reciclável, que é aquele formado por materiais - como plástico, papelão, vidro e alumínio - que podem ser reutilizados pela indústria na fabricação de novos produtos. Autoridades investigam os responsáveis para saber se houve engano ou má-fé no envio dos contêineres.

O caso provocou indignação no Brasil. Porém, os comércios legal e clandestino de lixo funcionam há muitos anos, acumulando escândalos desde a década de 1980. O mercado internacional do lixo surgiu da necessidade de se depositar, em algum local, a imensa quantidade de lixo produzido pelos países ricos, bem como da demanda, pelo setor industrial, por materiais recicláveis.

Mesmo o lixo tóxico pode ser negociado, contanto que haja concordância entre os países envolvidos, o que não ocorreu no caso envolvendo Brasil e Reino Unido.

Desde o final dos anos de 1990 surgiram tratados e leis para regular as transações comerciais envolvendo lixo, de modo a impedir que países pobres se transformem nos depósitos dos países desenvolvidos. Mesmo assim, máfias que agem globalmente, como a napolitana Camorra, ganham dinheiro com atividades ilícitas que incluem o transporte e o descarte de lixo tóxico.

Reciclagem
Poucas pessoas sabem, mas o Brasil compra lixo, de forma lícita, para abastecer a indústria nacional. De acordo com reportagem publicada recentemente pelo jornal O Estado de São Paulo, o Brasil gastou, em um ano e meio, US$ 257,9 milhões (R$ 485,8 milhões) na importação de 223 mil toneladas de lixo "limpo" (papelão, plástico, alumínio etc.).

O motivo da importação é que o país recicla apenas 22% do seu lixo, por falta de coleta seletiva. Segundo dados de 2008 da ONG Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), apenas 7% dos municípios brasileiros possuem coleta seletiva, que atende a 14% da população (e desse total, quase metade reside na região Sudeste).

Enquanto isso, a indústria precisa de matéria-prima para produzir papel, roupas e embalagens. Assim, a solução é importar. Ou seja, comprar produtos como aquelas garrafas PET que poluem os rios e canais que cortam as cidades. Para se ter uma ideia da importância da reciclagem para a indústria, com a fibra reciclada de apenas duas garrafas PET é possível confeccionar uma camiseta.

O Reino Unido também compra lixo para atender o mercado interno, ao mesmo tempo em que exporta lixo tóxico para países que têm condições de fazer a reciclagem ou dar um destino mais adequado. Para empresas, é mais barato enviar lixo tóxico para outro país do que investir em uma infra-estrutura própria - usinas para reciclar plástico, por exemplo - que atenda às exigências ambientais.

Por este motivo, um dos países que mais faturam com o lixo é a China. Os chineses compram toneladas de todo tipo de resíduo e usam mão-de-obra barata e disponível - que trabalha em condições muitas vezes degradantes - para extrair a matéria-prima que as empresas tanto precisam. O país é, atualmente, o maior processador do lixo ocidental, e ganha uma fortuna com esse serviço. Não é à toa que uma das mulheres mais ricas do mundo é a chinesa Yan Cheung, que atua no setor de reciclagem de papelão.

Outro destino comum do lixo tóxico produzido nos países ricos é a África, num comércio clandestino que conta com a falta de fiscalização ou mesmo a corrupção dos governos locais. O crime organizado também investe no negócio, tornando cada vez mais difícil separar o que é lícito e ilícito nesse comércio.

Para impedir o avanço do lixo nos bolsões de pobreza, em 1992 entrou em vigor a Convenção da Basileia, o principal tratado internacional de controle e regulamentação do comércio de lixo. O documento já foi assinado por mais de 50 países desenvolvidos, incluindo os países da União Europeia (UE). No entanto, os Estados Unidos, o maior mercado consumidor do mundo, até hoje não ratificaram o tratado.

Lixo eletrônico
Um dos tipos de lixo tóxico que mais são produzidos hoje no mundo é o chamado lixo eletrônico (em inglês, o e-waste). Lixo eletrônico é aquele gerado pelo descarte de televisores, computadores, celulares e outros aparelhos eletrônicos que contêm substâncias poluentes e que oferecem risco à saúde humana, como o chumbo, o mercúrio, o berílio e o cádmio. Menos de 10% desse lixo é reciclado.

A indústria eletrônica é uma das maiores do planeta. Como a demanda do mercado cresce a cada ano - e o tempo de vida útil dos produtos é cada vez mais reduzido -, há um aumento de lixo eletrônico. O que fazer com o computador obsoleto, o celular fora de moda ou o aparelho de TV velho?

Nos Estados Unidos, 80% do lixo eletrônico é enviado de navio para países asiáticos, como Índia e China. África e países da América Latina também são destinos comuns para materiais eletrônicos descartados. Em comunidades pobres, computadores de segunda mão são reutilizados, mas boa parte chega sem quaisquer condições de aproveitamento.

Na África, estima-se que mais de 75% do e-waste não é reaproveitado, sendo descartado ou queimado em condições inadequadas, contaminando o solo, a água e o ar. Computadores que são despejados nos lixos britânicos (responsáveis por 15% do e-waste europeu) acabam em favelas de países como a Nigéria, onde, depois de retiradas peças economicamente viáveis, viram verdadeiras "bombas químicas" na natureza.

Uma solução para esse problema seria obrigar as empresas a trocarem os componentes tóxicos dos produtos fabricados. Na União Europeia, foi aprovada uma lei que proibiu, a partir de julho de 2006, a venda nos países-membros de artigos eletrônicos que contenham substâncias nocivas à saúde.

Ainda assim, as companhias são relutantes em adotar medidas que previnam a poluição pelo lixo eletrônico. Os governos também falham na fiscalização e os consumidores nem sempre adotam os cuidados necessários na hora de se desfazer do monitor de computador ou do aparelho de ar condicionado velhos.

Num mundo globalizado, nações encontraram no livre comércio uma forma de lidar com o lixo produzido em massa. Mas negócios ilegais, envolvendo enormes quantias de dinheiro, ameaçam transformar países emergentes ou pobres em depósitos de lixo do mundo, afetando o meio ambiente. Por essa razão, há cada vez mais necessidade de tornar o mercado transparente e regularizado.

Anistia - 30 anos A lei que marcou o fim da ditadura

Trinta anos depois de promulgada no Brasil, a Lei 6.683, mais conhecida como Lei da Anistia, é considerada um dos mais importantes marcos do fim do regime militar (1964-1985). Porém, a polêmica envolvendo o acerto de contas com o passado do país continua mais viva do que nunca. (Direto ao ponto: Ficha-resumo)

A Lei de Anistia foi sancionada em 28 de agosto de 1979. Ela beneficiou mais de 100 presos políticos e permitiu o retorno de 150 pessoas banidas e 2000 exiladas, que não podiam voltar ao país sob o risco de serem presas.

O problema é que a lei também conferiu autoanistia para militares acusados de crimes de violação dos direitos humanos. Esta interpretação é contestada judicialmente e a decisão - se a Lei da Anistia perdoa ou não abusos da ditadura - ficará a cargo do Supremo Tribunal Federal (STF).

Antecedentes históricos
Depois do período mais duro da repressão, sob vigência do Ato Institucional nº 5 (dezembro de 1968, ao final dos anos 1970), o governo militar iniciou uma abertura política lenta e gradual no Brasil.

Contribuíram para isso as manifestações populares que tomavam conta do país, bem como uma crise interna no regime devido aos assassinatos do jornalista Vladimir Herzog e do metalúrgico Manuel Fiel Filho, ocorridos sob tortura no DOI-CODI - órgão de repressão do governo - em 1975.

Pela primeira vez eram feitas abertamente denúncias de tortura e mortes. Crescia também a pressão pela anistia, com apoio de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Em 1978, foi criado no Rio de Janeiro o CBA (Comitê Brasileiro pela Anistia), com o objetivo de pressionar o governo para que concedesse o perdão a pessoas acusadas de crimes políticos, de modo a permitir que presos fossem soltos e exilados voltassem ao país.

Entre os exilados estava o sociólogo e ativista político Herbert José de Souza, o Betinho, irmão do cartunista Henfil.

Ele é citado nos versos da música "O Bêbado e o Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc, gravada por Elis Regina em 1979: "Meu Brasil (...) que sonha com a volta do irmão do Henfil / com tanta gente que partiu num rabo-de-foguete / Chora a nossa pátria, mãe gentil / choram Marias e Clarisses no solo do Brasil". A música se tornou símbolo da luta pela anistia.

Votação tumultuada
Em meio ao clima de redemocratização, o presidente João Baptista Figueiredo elaborou o projeto de Lei da Anistia e encaminhou ao Congresso Nacional. Figueiredo foi o último presidente da ditadura brasileira e governou o país de 1979 a 1985.

O projeto foi aprovado numa sessão tumultuada na Câmara dos Deputados em 22 de agosto de 1979. Na época, havia apenas dois partidos legitimados pelo governo: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que apoiava a ditadura e tinha maioria no Legislativo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que fazia oposição.

Fora do Congresso, presos políticos faziam greve de fome, em vários presídios do país, em protesto pela aprovação da lei.

Seis dias depois, a lei foi finalmente sancionada e, na época, foi comemorada como uma importante vitória contra a ditadura.

Desde o início do regime, em 1964, políticos e intelectuais que se opunham ao golpe militar tiveram seus direitos políticos cassados. Outros militantes viram na clandestinidade e na luta armada a única forma de combater a repressão. Nestas atividades, cometiam assaltos a bancos, para financiar guerrilhas, e sequestros, para exigir a soltura de companheiros presos.

Pouco mais de dois meses depois de aprovada, a Lei da Anistia teve como efeito permitir o retorno ao país de políticos como Leonel Brizola, ex-governador do Rio de Janeiro e duas vezes candidato à presidência pelo PDT, e Carlos Minc, atual ministro do Meio Ambiente.

Intelectuais como Darcy Ribeiro e Paulo Freire, que estavam exilados do país por conta de seus ideais políticos, também retornaram com a anistia.

O texto aprovado, no entanto, não possibilitou de imediato a libertação de todos os presos políticos. O motivo é que, contra a oposição, que queria anistia ampla, geral e irrestrita, o projeto não anistiava presos condenados por atos terroristas, assaltos e sequestros.

Anistia x justiça
Em razão da pressão política pela anistia aos exilados e aos presos que sofriam torturas nos órgãos de repressão, a lei foi vista como um golpe contra o regime militar. Mas não foi bem assim. O Estado a dosou na medida certa e, com o fim da ditadura, a lei foi usada para impedir que crimes de tortura e assassinato de presos políticos fossem a julgamento.

Entendeu-se que a anistia beneficiava, além das vítimas do golpe militar, militares responsáveis por torturas, mortes e desaparecimentos de opositores do regime.

Com isso, diferente de países que também viveram sob ditadura, como a Argentina e o Chile e que julgaram os seus torturadores, no Brasil, apenas o militar reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra foi processado por crimes de tortura. Ele chefiou o Destacamento de Operações de Informações (DOI) de São Paulo, de 1970 a 1974.

Ustra foi declarado culpado pela Justiça comum no ano passado, mas o processo foi suspenso na Justiça Federal até que se chegue a um consenso sobre a Lei de Anistia.

A dúvida se refere ao artigo primeiro da lei, que diz: "É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes (...)".

Para quem defende a punição dos militares, a Lei de Anistia perdoa somente crimes políticos cometidos por pessoas vítimas de perseguições do governo militar.

Já outros acreditam que a Lei da Anistia perdoou tanto pessoas que praticaram crimes políticos, quando militares que cumpriam ordens superiores num regime de exceção. Tortura, dessa forma, estaria incluída em "conexo" aos crimes políticos.

Palavra final
A decisão a respeito de como a lei deve ser interpretada está a cargo do órgão máximo da Justiça no país, o STF, que deve julgar em breve uma ação movida pela OAB. A decisão da Suprema Corte servirá de base para os julgamentos, dando um rumo às ações paradas, como a movida contra o coronel Ustra, e permitindo a abertura de outros processos.

As investigações de crimes cometidos pelos militares dependem da instalação de uma comissão de verdade no país. A medida tem apoio do Governo Federal, que abriga em seus altos escalões muitos ex-presos políticos, como a ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata à sucessão presidencial Dilma Roussef.

Na prática, porém, dificilmente algum militar será preso. Já se passaram décadas, os acusados são idosos e, mesmo para crimes que não prescrevem, há apelações que levam anos tramitando na Justiça.

Este acerto de contas com o passado no Brasil deverá servir mais para que o governo preste esclarecimentos para casos de desaparecimentos, como os mortos da guerrilha do Araguaia, e permitir que mais famílias entrem com pedidos de indenizações na Justiça.

Crise econômica próxima do fim? As lições da crise, um ano depois

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião de chefes de Estado do G20, em abril de 2009
Foi numa segunda-feira, 15 de setembro de 2008, que ocorreu a morte simbólica de Wall Street, um dos mais importantes centros financeiros do mundo. A economia mundial se viu então diante um iminente colapso, sem precedentes desde o crack da bolsa de Nova York em 1929. (Direto ao ponto: Ficha-resumo)

Neste dia, o Lehman Brothers quebrou e outros três bancos de investimentos dos Estados Unidos, o JP Morgan, o Merril Lynch e o Goldman Sachs, quase foram à falência. Para se reerguerem, pediram socorro ao governo. Era o início da atual crise econômica mundial, que mudou o panorama geopolítico do mundo globalizado e deixou uma dívida que, no futuro, pode resultar em novos abalos no sistema financeiro. Para evitar isso, é preciso criar mecanismos mais eficientes para regulamentar a especulação com capitais de risco.

A questão de como será feito esse controle é justamente um dos pontos de divergência da cúpula do G-20, grupo dos países ricos e emergentes. Eles se reúnem no final deste mês de setembro nos Estados Unidos para chegar a um acordo sobre como sair da crise.

Quase um ano depois, o consenso é que o pior já passou e que os efeitos, contrariando os mais pessimistas, foram menos catastróficos que o esperado. De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a previsão é de recuo em 1,3% da economia global este ano - contra a estimativa anterior de 1,4% de retração - e recuperação somente no final de 2010.

Trocando em miúdos, o capitalismo entrou agora na fase de recuperação. No entanto, para o G-20, ainda é cedo para suspender a irrigação de setores privados com verbas públicas. É uma aposta necessária, mas que não agrada a todos. Manter os pacotes de estímulos monetários e fiscais do Estado tem um custo político: o contribuinte sabe que foi ele quem pagou pela "lambança" no mercado financeiro, e deve retribuir seu descontentamento nas urnas.

Governos gastaram trilhões de dólares de impostos e aposentadorias para salvar bancos à beira da falência, "azeitar" o setor industrial e gerar empregos. Com isso, mais as medidas de reajustes fiscais, conseguiram resgatar a economia do buraco.

Brasil
O mundo pós-crise que surgiu dessa manobra trouxe também um novo rearranjo no tabuleiro da geopolítica mundial. Os Estados Unidos elegeram o primeiro presidente negro de sua história, Barack Obama, com a promessa de reerguer a maior potência econômica do planeta.

Desde o início da recessão, o país viu desaparecer 6,9 milhões de vagas e amarga a pior taxa de desemprego em 26 anos. O americano está endividado e sem poder de consumo, o que deve retardar ainda mais a recuperação da economia doméstica.

Na Europa, mesmo com o setor bancário menos atingido, o desemprego é o maior em dez anos, o que deu vazão a políticas de restrições à imigração. E, pela primeira vez, a China ultrapassou a Alemanha e se tornou o principal país exportador no mundo, provocando uma mudança no fluxo de capitais entre Estados Unidos e Europa.

Aliás, são os países que compõe o chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), grupo das economias emergentes, que saem fortalecidos da crise, com maior poder político e de atração de investimentos.

No Brasil, a recessão durou exatamente dois trimestres, contra o dobro em nações mais ricas, como Estados Unidos, França e Alemanha. Para este ano, a estimativa de crescimento é de quase 2%, contrastando com as taxas negativas em outros países.

Contribuiu para isso uma economia estável e um mercado financeiro com pouca alavancagem - termo usado para quando uma empresa investe aquilo que não tem. Foi esse tipo de operação de risco que deu início ao período de recessão.

Bolha imobiliária
No final de 2008, instituições financeiras promoviam uma verdadeira "roleta russa" com as economias de pessoas comuns. Havia juros baixos e crédito farto para operações de alto risco e lucro incerto.

Os americanos pegavam dinheiro emprestado dos bancos para comprar casas, contraindo dívidas que não poderiam pagar. Com a maior procura, os imóveis eram valorizados. Os bancos, por sua vez, faziam contratos de segunda linha, chamados subprimes, e repassavam para as seguradoras, visando se cobrir de eventuais calotes. Os papéis eram ainda negociados com investidores e fundos de aposentadoria.

A ideia era, no final, todos saírem ganhando. Mas aí os juros aumentaram e os americanos não conseguiram pagar as dívidas, perdendo as casas hipotecadas. Os bancos colocaram os imóveis à venda, causando queda nos preços de mercado.

De uma hora para outra, empresas se viram cobertas de títulos "podres" dos quais precisavam se livrar o mais rápido possível, antes que se desvalorizassem mais ainda. A situação era o que os especialistas chamam de estouro da "bolha".

A volta do Estado
Daí por diante, foi um efeito dominó. Com a confiança abalada no mercado, créditos deixaram de ser concedidos e os investidores se afastaram. Sem crédito, houve queda de produção e as fábricas fecharam, como aconteceu com a indústria automobilística.

Como resultado, milhares de pessoas perderam o emprego, gerando queda no consumo e na arrecadação de impostos. Os países entraram em período de recessão, que é quando deixam de crescer e acumulam perdas no Produto Interno Bruto (PIB), a soma de riquezas de uma nação.

Mas por que a crise não foi prevista? Por que não se adotaram mecanismos para impedir que isso acontecesse?

Controles existem, mas são frágeis: um dinheiro investido em uma ação da Bolsa atravessa o mundo em questão de segundos, enquanto as agências que controlam as transações financeiras, como os bancos centrais, ficam restritas às fronteiras de cada país.

Além disso, nos últimos 50 anos a crença dominante entre economistas era de um mercado autorregulado, aquilo que Adam Smith (1723-1790), pai da economia moderna, chamava de "mão invisível". Quando menos o Estado interviesse, melhor.

A doutrina da "mão invisível" saiu abalada com a crise e hoje se fala em reconstrução do papel do Estado na economia global. O problema dessa história é que o Estado está fazendo isso contraindo dívidas que podem ser o germe da próxima depressão.

Os Estados Unidos, que gastaram US$ 12 trilhões em pacotes para salvar bancos e indústrias, a previsão é terminar o ano com déficit de 11% do PIB (no Brasil, estima-se em torno de 3%).

Enquanto isso, os grandes bancos que antes estavam à margem do abismo comemoram a saída do vermelho. Voltaram a faturar. Melhor do que isso, saíram da crise com uma espécie de salvo-conduto: a garantia de que, a despeito das especulações de risco, poderão ser ajudados novamente pelo governo.

Não se sabe quando ocorrerá a nova crise. A única certeza é que, a menos que sejam implementadas medidas mais enérgicas de controles das finanças internacionais, ela virá. E nem é preciso ser economista para saber quem vai pagar a conta novamente.

Direto ao ponto volta ao topo
Depois de um ano, a crise econômica internacional dá sinais de que está chegando ao fim. Países começam a se recuperar do período de recessão e o G-20, grupo dos países ricos e emergentes, discute agora estratégias para sair da crise e controlar o mercado financeiro, de modo a evitar novos colapsos no sistema.

Para recuperar a economia, os Estados Unidos e a Europa investiram em pacotes de estímulo, que incluíram a injeção de dinheiro em bancos, na indústria e políticas de reajuste fiscal. No entendimento do G-20, ainda é cedo para suspender esse apoio dos Estados. O lado ruim é que os governos vão ficando cada vez mais endividados, o que pode causar, no futuro, uma nova depressão.

No Brasil, a recessão durou dois trimestres, contra o dobro em nações mais ricas, como Estados Unidos, França e Alemanha. A estabilidade econômica do país contribuiu para amenizar os impactos da crise.

Países emergentes, como China e Brasil, não somente se recuperaram mais cedo como têm hoje um mercado promissor para investimentos estrangeiros. No mundo pós-crise, eles assumem uma posição de destaque no cenário da geopolítica mundial.

­baterias de íon-lítio









­As baterias de íon-lítio, hoje em dia, são bastante populares . É possível encontrá-las em laptops, PDAs, telefones celulares e iPods. Elas são tão comuns porque, proporcionalmente, são as baterias recarregáveis com maior capacidade de armazenamento de energia, atualmente existentes.

As baterias de íon-lítio também têm aparecido nos noticiários ultimamente. O motivo? Ocasionalmente, elas pegam fogo. Embora isso não seja muito comum (apenas dois ou três conjuntos a cada milhão delas apresentam o problema), quando acontece, a situação é bem grave. Em algumas casos, o índice de falha pode aumentar, obrigando os fabricantes a fazer um recall que lhes custa milhões de dólares.

um conjunto de baterias de íon-lítio
Foto cedida por Amazon

Então a questão é: o que faz com que essas baterias armazenem tanta energia e sejam tão populares? E como é que elas pegam fogo? E será que há algo que você pode fazer para impedir o problema ou ajudar suas baterias a durar mais? Neste artigo, vamos responder essas e outras questões.

As baterias de íon-lítio são populares porque têm várias vantagens importantes sobre as concorrentes:

* costumam ser muito mais leves do que outros tipos de baterias recarregáveis do mesmo tamanho. Os eletrodos de uma bateria de íon-lítio são feitos de lítio e carbono leve. Além disso, o lítio também é um elemento altamente reativo, o que significa que é possível armazenar bastante energia em suas ligações atômicas. Significando uma densidade de energia muito alta para essas baterias.

Aqui vai um modo de obter uma perspectiva sobre a densidade de energia. Uma bateria de íon-lítio pode armazenar 150 watts-hora de eletricidade em 1 kg de bateria. Já um pacote de bateria de NiMH (hidreto de metal-níquel) consegue armazenar talvez 100 watts-hora por quilograma, embora o mais comum seja de 60 a 70 watts-hora. Uma bateria de chumbo-ácido tem a capacidade de armazenar apenas 25 watts-hora por quilo. Usando a tecnologia chumbo-ácido, são necessários 6 kg para armazenar a mesma quantidade de energia que uma bateria de íon-lítio de 1 kg. A diferença é enorme [Fonte: Everything2.com] (em inglês);


* elas mantêm sua carga. Um conjunto de baterias íon-lítio perde apenas cerca de 5% da sua carga por mês, enquanto as baterias NiMH perdem 20% no mesmo período;


* elas não apresentam o efeito memória, o que significa que não é preciso descarregá-las totalmente antes da recarga, como acontece com outros tipos de baterias;


* as baterias de íon-lítio conseguem suportar centenas de ciclos de carga/descarga.

Mas isso não significa que essas baterias são infalíveis. Elas também têm algumas desvantagens:

* começam a se decompor assim que saem da fábrica, durando apenas de dois a três anos a partir do dia de fabricação, quer você as use ou não;
* são extremamente sensíveis a temperaturas altas. O calor faz com que as baterias de íon-lítio se decomponham muito mais rapidamente do normal;
* se você descarregá-las completamente, elas não podem mais ser utilizadas;
* um conjunto de baterias íon-lítio deve ter um computador de bordo para gerenciá-la, tornando-as ainda mais caras do que já são;
* há uma pequena chance de que, se uma bateria de íon-lítio falhar, ela se incendeie.

Muitas dessas características podem ser compreendidas se observarmos a composição química de uma célula (uma bateria individual) de íon-lítio. E é isso o que vamos fazer na próxima seção.

Alimentação



Temperatura do corpo, gorduras, carboidratos e proteínas


Pirâmide alimentar
Você já percebeu que a temperatura do seu corpo permanece quase sempre a mesma, com pequenas variações? Normalmente a temperatura de nossos corpos fica em torno de 37o C, seja em locais frios ou quentes. Na realidade nosso organismo produz energia térmica que nos mantém aquecidos. Mas você pode se perguntar: como produzimos essa energia?

E a resposta é simples: por meio da alimentação. Essa energia, utilizada para aquecer os corpos, andar, correr, pular e fazermos tudo o que quiser é obtida por um processo conhecido como respiração celular. Trata-se de uma reação química, um tipo de combustão, que ocorre no interior de cada uma das nossas células. A glicose, obtida pela alimentação, reage com o oxigênio, obtido pela respiração, liberando energia e produzindo água e gás carbônico.

Os cientistas sabem que quantidade de calor é produzida por uma certa quantidade de alimento. Veja: uma das formas de medir calor que conhecemos é a caloria. Uma caloria é a quantidade de energia térmica necessária para elevar em um grau a temperatura de um grama de água. Uma barrinha de cereal não está "quente", mas e tem 80 calorias. O que é então a caloria dos alimentos?

Energia química e energia térmica
As ligações químicas existentes entre os átomos dos compostos que formam os alimentos "guardam" energia química, que pode vir a ser transformada em energia térmica. Se aquela barrinha de cereal for toda convertida em energia térmica, ela irá elevar em oitenta graus a temperatura de um grama de água, ou elevar a temperatura de 80 gramas de água em um grau.

Entretanto, muitas vezes comemos e armazenamos alimentos na forma de gordura, pois não estamos precisando de energia naquele momento e fazemos uma "poupança para o futuro".

Calor é energia térmica em trânsito entre dois corpos. Podemos dizer, genericamente, que o calor é uma forma de energia. Nossos músculos também precisam de energia para realizar seus movimentos e com isso ficamos aquecidos. Gastamos energia quando corremos, pulamos, nadamos, pedalamos. Então, fazer exercícios "queima calorias", gasta energia armazenada. Contudo, mesmo quando estamos descansando gastamos energia para manter nosso coração batendo, os rins funcionando, nosso cérebro pensando ou sonhando e nossos pulmões bombeando gases. Até mesmo quando estão parados, nossos músculos necessitam de energia.

Gorduras e carboidratos
Experimentalmente, os cientistas provaram que alguns tipos de alimentos fornecem mais energia que outros, como é o caso das gorduras e carboidratos. Os açúcares e o amido são conhecidos como carboidratos. Não é difícil saber quando estamos nos alimentando de alimentos ricos açúcar: tudo o que é doce ou adocicado contém açúcar - mel, doces, laranja, banana, maçã, uvas, líquidos adoçados, etc.

Já os alimentos farináceos são aqueles ricos em amido: macarrão, bolo, pão, batatas, arroz, os diferentes cereais. Como a respiração celular é uma combustão, podemos dizer que os carboidratos são o "combustível" dos nossos corpos. Após a digestão, são absorvidos na forma de açúcares mais simples (glicose).

A manteiga, a margarina, o azeite, os óleos e as frituras em geral são alimentos gordurosos. As carnes possuem gorduras, porém alguns tipos de carne possuem muito mais gordura que outras. Ovos, sementes e queijo também são alimentos que possuem gordura. As gorduras ou lipídeos são muito importantes para a formação das membranas celulares e são utilizadas como fonte de energia na falta dos carboidratos.

As gorduras e os carboidratos são compostos pelos mesmos elementos químicos (carbono, hidrogênio e oxigênio). Entretanto, as quantidades de cada elemento, em seus grupamentos atômicos, são diferentes. As gorduras possuem menor quantidade de oxigênio que os carboidratos.

Nos alimentamos principalmente de carboidratos. Então, nossa energia vem desses alimentos, classificados, juntamente com as gorduras, como alimentos energéticos.

Trabalho e clima
A quantidade de alimentação que uma pessoa necessita depende do tipo de vida e da região que habita. Pessoas cujo trabalho "usa" muito o corpo, que fazem muito esforço físico (carpir um terreno, juntar o gado, jogar futebol), precisam de maior quantidade de energia do que aquelas que realizam trabalhos sedentários, como ficar sentado na frente de uma escrivaninha usando o computador ou escrevendo um livro (isso também vale para quem só se diverte jogando videogame...).

Do mesmo modo, as pessoas que vivem em regiões de clima frio alimentam-se de comidas mais gordurosas do que os indivíduos que vivem em regiões de clima quente, pois seus corpos gastam maior quantidade de energia para manter-se aquecidos.

Proteínas e aminoácidos
Outros tipos de alimento possibilitam o crescimento e a manutenção de nossos corpos. Estes alimentos são conhecidos como alimentos plásticos, pois se destinam a formar nossos organismos e a substituir as perdas sofridas por eles. As proteínas que compõe os nossos corpos formam-se no interior de nossas células a partir dos aminoácidos, pequenos grupamentos atômicos obtidos em parte pela alimentação.

São necessários vinte diferentes aminoácidos para que nossos corpos produzam milhares de proteínas. Os alimentos que contém proteínas fornecem os oito aminoácidos que não somos capazes de produzir (aminoácidos essenciais) e possibilitam aos nossos corpos renovar o sangue, fazer certos materiais que mantém nossos corpos funcionando bem, cicatrizar nossas feridas, etc. Muitos alimentos contêm proteínas: carnes, leite, queijo, ovos, peixe e alguns vegetais, como soja e feijão.

A proteína pode ser considerada a base para a construção de nossos corpos. Os aminoácidos não são armazenados no organismo, sendo necessário ingerir constantemente alimentos que contenham proteínas. Os grupamentos atômicos das proteínas são formados por carbono, hidrogênio e oxigênio, como os carboidratos e gorduras. Entretanto, as proteínas possuem também o nitrogênio. Por vezes contém também fósforo e enxofre. Mas os resíduos de dieta protéica são ricos em compostos nitrogenados, os quais são tóxicos para o organismo.

Enfim, podemos observar que todos os alimentos são plásticos e energéticos ao mesmo tempo, embora alguns sejam mais plásticos que energéticos e outros mais energéticos que plásticos.

Eleições 2010 As regras do jogo para a internet


Eleições 2010
As regras do jogo para a internet


O presidente da Câmara, Michel Temer (centro), discute mudanças na legislação eleitoral
Com o propósito alardeado de liberar campanhas políticas na internet, a Câmara dos Deputados aprovou, no dia 8 de junho de 2009, o substitutivo ao Projeto de Lei 5.498/2009, de reforma eleitoral, que, na prática, vai restringir o uso de ferramentas digitais para fins políticos no Brasil. (Direto ao ponto: Ficha-resumo)

Caso sejam aprovadas no Senado Federal até 30 de setembro de 2009 e sancionadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as novas regras já valerão para as próximas eleições gerais de 2010, quando serão eleitos presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais.

A propaganda eleitoral na web está hoje restrita aos sites dos candidatos, destinados à campanha, com a terminação can.br, de acordo com o Capítulo 4 da resolução 22.718/2008 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A resolução tem como base a lei eleitoral vigente, de número 9.504/1997.

Isso não impediu que, nas eleições de 2008, os políticos usassem blogs, Twitter (microblog com espaço para escrita de até 140 caracteres), perfis no Orkut e outras redes sociais para pedir votos. Os debates entre candidatos também não são proibidos na internet.

Se a reforma eleitoral for aprovada, a campanha será permitida em sites - gerados pelos próprios candidatos, partidos ou coligações - e em blogs, redes sociais e serviços de mensagens instantâneas, com material produzido por qualquer pessoa, a partir de 5 de julho do ano da eleição.

A propaganda eleitoral paga ou gratuita ficará proibida na internet para sites oficiais (de Estados, prefeituras, etc.) e de empresas (com ou sem fins lucrativos). A pena para quem infringir a lei é multa de R$ 5 a R$ 30 mil, aplicadas ao provedor e serviço de hospedagem. A Justiça Eleitoral ainda poderá determinar a suspensão do acesso a todo conteúdo na internet por um período de 24 horas.

Mesmas regras da TV
As mudanças podem criar situações absurdas no país. Um jornal ou uma revista que exponham sua preferência por determinado político em editorial ou que aceitem publicidade em suas páginas, o que é permitido por lei, não poderão veicular o mesmo conteúdo na versão online das publicações, sob o risco de serem punidos.

Um blog hospedado em um portal poderá manifestar apoio ou criticar um candidato, mas, a depender da crítica que fizer, seu provedor poderá ser penalizado. São expedientes semelhantes, em relação à internet, às censuras de regimes ditatoriais da Coreia do Norte, Irã, China e Cuba.

Para estabelecer as regras que disciplinam o uso político da web, os deputados compararam a internet com os meios eletrônicos de massa, TV e rádio, que são concessões públicas, ou seja, empresas que recebem uma autorização provisória do governo para prestarem serviços de utilidade pública e que, por isso, são passíveis de regulamentação do Estado. A internet, pelo contrário, é um terreno de livre expressão e sem controle, onde qualquer um pode difundir livremente suas opiniões.

Debates políticos em portais, sites e blogs para cargos majoritários (presidente, governador e senador) ficarão sujeitos, da mesma forma que os meios de radiodifusão, à concordância de dois terços dos candidatos. Serão obrigados, caso queiram promover o evento, a convidar até os candidatos "nanicos". Hoje, o procedimento já torna quase inviável os debates nas TVs.

Outra norma que também valerá para a rede é o direito de resposta. O candidato que se sinta injuriado com alguma crítica ou brincadeira feita em um blog poderá pedir na Justiça direito de resposta, em espaço proporcional, e a retirada do material considerado ofensivo no site.

Mas como cercear o debate num ambiente de fluxo constante de ideias e diálogos, marcado pela irreverência e sem o compromisso com a imparcialidade que caracteriza a imprensa? Além disso, o "direito de resposta" na internet é quase instantâneo com os recursos interativos que o meio oferece, diferente dos demais veículos de comunicação.

O próprio presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, criticou a reforma. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, afirmou que "(...) não há como regulamentar o uso da internet. A internet tem dois méritos: mobiliza a sociedade de uma forma interativa, que em época de eleição deve ser turbinada, não intimidada. E está criando uma nova sociedade civil mundial. Qualquer regulamentação no nível dos Estados é provinciana".

Era Obama
O ministro tem razão. A internet é hoje um novo espaço público de discussão política, da mesma forma que a TV foi para o século passado e continua sendo até hoje, exercendo grande influência.

O maior exemplo do poder da rede em engajar pessoas e despertar o interesse pela política foi a campanha de Barack Obama à Casa Branca. Além de ser o primeiro negro a ocupar a presidência dos Estados Unidos, ele foi o primeiro político a usar amplamente os recursos interativos e os sites de relacionamentos da rede como espaço de debate e propaganda política.

Para atingir o eleitorado mais jovem, que passa mais tempo na frente do computador do que da TV, Obama recorreu a sites como YouTube, Myspace, Facebook e Twitter, com a vantagem do custo quase zero dessas plataformas. Ele também dispensou o financiamento público e arrecadou US$ 650 milhões (R$ 1,280 bilhão) em doações voluntárias, boa parte feita online, por meio do site de sua campanha.

A internet tem ainda um papel importante na mobilização de massas, como mostraram os recentes protestos ocorridos no Irã. As manifestações nas ruas de Teerã, capital do país, foram divulgadas por meio de fotos, vídeos e textos veiculados na rede de computadores pelos próprios usuários, rompendo a censura imposta à imprensa no país.

No Brasil, 62,3 milhões de pessoas, com idades de 16 anos ou mais, têm acesso à web - incluindo acessos em casa, no trabalho, na escola e em LAN houses -, segundo pesquisa do Ibope Nielsen Online. O número corresponde a 32% da população brasileira, hoje estimada em 191,4 milhões de habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Transparência
Se, por um lado, a reforma eleitoral limita a liberdade dos meios digitais, por outro beneficia os próprios políticos e não apresenta avanços no quesito transparência, essencial para evitar casos de corrupção e melhorar o sistema político brasileiro.

Pelo texto aprovado na Câmara, deixam de ficar inelegíveis os candidatos que tiveram as contas de campanhas nas últimas eleições reprovadas pelos TREs (Tribunal Regional Eleitoral) ou pelo TSE, afrouxando o "filtro" nas candidaturas.

Outro item praticamente oficializa as doações ocultas de verbas, que são feitas por empresas aos partidos, para depois serem repassadas aos candidatos. Um total de 60% das doações realizadas nas eleições passadas foram feitas por meio desse recurso. Assim, o eleitor não terá como saber quem financia a campanha do seu candidato.

Saber quem paga a campanha do político é importante porque muitas empresas, como grandes empreiteiras, fazem doações visando obter benefícios durante os mandatos, por exemplo, vantagens em licitações de serviços públicos, o que é ilegal.

Como o projeto chegará ao Senado debaixo de muitas críticas, ainda há chance de sofrer novas alterações, contemplando sugestões que incorporem à democracia brasileira a inovação trazida pela internet, como ocorreu nos Estados Unidos. Mas denúncias de irregularidades envolvendo o senador José Sarney (PMDB-AP), presidente da Casa, podem prejudicar os trabalhos.

Direto ao ponto volta ao topo
A Câmara dos Deputados aprovou um substitutivo ao Projeto de Lei 5.498/2009, que trata da reforma eleitoral, restringindo o uso da internet nas eleições de 2010.

O que muda
Se o substitutivo for aprovado também no Senado Federal:
• serão permitidas campanhas em sites (gerados pelos próprios candidatos, partidos ou coligações) e em blogs, sites, redes sociais e serviços de mensagens instantâneas, com material produzido por qualquer pessoa;
• ficarão proibidas campanhas em sites oficiais e de empresas;
• jornais ou revistas que exponham sua preferência por determinado político em editorial ou que aceitem publicidade em suas páginas, não poderão veicular o mesmo conteúdo em seus sites;
• um blog poderá manifestar apoio ou criticar um candidato, mas, a depender da crítica que fizer, seu provedor poderá ser penalizado.
• o candidato que se sinta ofendido com críticas ou brincadeiras feitas em blogs ou sites poderá pedir na Justiça direito de resposta e a retirada do material ofensivo.

Crítica
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Carlos Ayres Britto, criticou a reforma. Segundo ele, “não há como regulamentar o uso da internet. A internet mobiliza a sociedade de uma forma interativa, que em época de eleição deve ser turbinada, não intimidada”.

El Niño pode trazer seca ao nordeste e à Amazônia, diz agência dos EUA

Fenômeno climático também poderá provocar enchentes no sul do país entre 2009 e 2010.



Países ricos 'precisarão de US$10 bi para ajudar pobres a lidar com mudanças climáticas'

A chegada do fenômeno climático El Niño poderá provocar seca no nordeste brasileiro e na região amazônica e enchentes no sul do país entre o fim deste ano e o começo de 2010, segundo avaliação da agência nacional e atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês).

Após registrar um aumento constante das temperaturas da superfície do Oceano Pacífico central nos últimos seis meses, a NOAA confirmou o início do El Niño.

O fenômeno climático é caracterizado pelo aumento das temperaturas na zona equatorial do Pacífico, que ocorre a cada quatro ou cinco anos e afeta o clima em todo mundo.

Para muitos, a simples menção ao El Niño é um sinal de alarme. Há pouco mais de uma década, entre 1997 e 1998, ocorreu um dos mais fortes El Niño da história, com catástrofes climáticas que deixaram milhares de mortos.

Danos

As inundações nas Américas (que afetaram principalmente vastas regiões do Chile, da Bolívia, do Equador e dos Estados Unidos) e na África destruíram colheitas na maioria dos países afetados.

As secas se propagaram pela Austrália e partes do sudeste asiático, provocando incêndios florestais. O fenômeno afetou ainda a pesca na América do Sul, por conta da redução nos estoques de peixes.

O furacão Mitch, em 1998, cuja força também foi relacionada ao fenômeno climático, provocou intensas inundações na América Central que deixaram mais de 9 mil mortos.

Calcula-se que os danos totais provocados pelo El Niño em todo o mundo chegaram a US$ 34 bilhões.

Prognósticos

Ainda é cedo para prever se o fenômeno neste ano terá uma força semelhante à da década passada, mas os prognósticos da NOAA refletem um consenso sobre o seu crescimento e o seu desenvolvimento.

"As condições atuais e as tendências recentes favorecem o desenvolvimento contínuo de um fortalecimento de leve a moderado do El Niño até o outono de 2009 no hemisfério norte, com possibilidade de fortalecimento a partir de então", diz a agência.

Segundo Michelle L'Heureux, diretora da NOAA para Previsão do El Niño, se a potência do fenômeno climático for de moderada a forte, "as condições no centro e no leste da Bacia Amazônica serão mais áridas que o normal entre novembro de 2009 e março de 2010, e entre janeiro e maio de 2010 estarão mais secas no nordeste do Brasil".

"Ao mesmo tempo, as condições estarão mais úmidas na costa oeste da América do Sul. O Equador e o norte do Peru o sentirão entre janeiro e abril de 2010, e o Uruguai, o nordeste da Argentina e o sul do Brasil entre novembro de 2009 e fevereiro de 2010", disse L'Heureux à BBC.

Efeitos positivos

A pesar de a chegada do El Niño ser vista por muitos como um anúncio de tragédia a caminho, a especialista explica que os seus efeitos positivos ou negativos devem depender de sua força.

"O El Niño pode, por exemplo, trazer chuvas benéficas no fim do ano ao sudeste do Texas, que atualmente enfrenta uma seca. Mas se chover demais, isso pode se converter em uma ameaça, por causa das possíveis inundações", diz L'Heureux.

Outro possível efeito positivo, segundo ela, seria a redução da intensidade dos furacões no Caribe.

L'Heureux diz ainda que não existem ainda evidências de que a incidência do El Niño poderia estar sendo reforçada pelo aquecimento global.

"O El Niño é um fenômeno natural que vem ocorrendo há milhares de anos. Até o momento não há evidências de uma relação entre esse fenômeno e as mudanças climáticas", diz ela.

"O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas diz claramente que não há indícios consistentes sobre futuras mudanças na amplitude ou na freqUência do El Niño no século 21", conclui.

Crise econômica

GM e o pesadelo americano




O declínio da indústria automobilística nos Estados Unidos chegou a uma situação dramática no último dia 1º de junho quando a General Motors (GM), símbolo empresarial da maior potência econômica do planeta, pediu concordata para evitar a falência.

Encolhidas pela crise econômica mundial, as "Três Grandes de Detroit" - GM, Ford e Chrysler -, antes sinônimos da indústria norte-americana no século 20, hoje mais parecem dinossauros diante da revolução dos carros "verdes" asiáticos, mais baratos e menos poluentes.

Das três companhias, somente a Ford, segunda maior montadora do país, ainda não enfrenta o fantasma da extinção. A terceira, a Chrysler, já havia pedido concordata em abril e, agora, vai ser comprada pela italiana Fiat.

A queda do império das montadoras começou em 2008 com a crise financeira que afetou o crédito e o consumo nos Estados Unidos. Sem dinheiro no bolso e não conseguindo mais financiamentos, o americano deixou de comprar carros, provocando queda nas vendas.

Reduções no faturamento
Segundo o último balanço, em maio deste ano as vendas na GM caíram 30% em relação ao ano anterior, enquanto a Chrysler e a Ford tiveram reduções em 47% e 24% no faturamento, respectivamente.

Como resultado, o setor anunciou demissões, cortes na produção e fechamento de fábricas. Além disso, as empresas também enfrentam dificuldades para conseguir crédito, saldar dívidas e ainda pagar aposentadorias e planos de saúde de milhares de ex-funcionários.

Para evitar que fossem à falência, o Tesouro norte-americano injetou quase US$ 30 bilhões (R$ 58 bi) dos contribuintes na GM e na Chrysler, ao mesmo tempo em que estabeleceu um prazo para que se recuperassem.

A falência traz risco de perda de milhares de empregos (até 2,5 milhões somente nos Estados Unidos), queda na arrecadação de impostos e o colapso de inúmeras fabricantes de autopeças e revendedoras de automóveis.

Mas a sangria nos cofres públicos não impediu a quebra de ambas as companhias. Na situação atual, as fábricas continuam operando - alimentadas pelo soro de Washington -, mas não passam de uma mera lembrança dos tempos em que reinavam soberanas.

Modo de vida americano
O século 20 foi o século da indústria automotiva. A GM, fundada em 1908, foi a maior fabricante de carros do mundo de 1931 até 2008, quando perdeu o posto para a japonesa Toyota.

Quando Henry Ford (1863-1947) criou a Ford em 1903, inovou com a linha de montagem, em que cada grupo de funcionários fabricava uma peça, acelerando a produção de carros simples e baratos para a classe média. O carro tornou-se o sonho de consumo da família americana.

Junto com a Chrysler, inaugurada em 1925 por um ex-diretor da GM, as gigantes sobreviveram à crise de 1929, que dizimou outras empresas do ramo automobilístico no país. Com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), voltaram os esforços para a fabricação de veículos bélicos, ajudando os Aliados a vencerem a guerra.

No período pós-guerra, o Estado patrocinou a construção de uma imensa malha viária, contribuindo para a expansão da indústria. Juntas, as três fabricantes passaram a controlar 94% do mercado automotor do país, mantendo o oligopólio até a chegada das concorrentes japonesas, Honda e Toyota, nos anos de 1970.

Nos anos de 1990, o mundo já dava sinais de que o cenário não seria mais favorável para o modelo de negócios que a GM representava. O aumento do preço do petróleo, o caos no tráfego nas grandes cidades e, principalmente, os danos causados pelo aquecimento global, exigiram mudanças drásticas no setor automotivo.

O destino da GM
O pedido de concordata da General Motors é considerado, historicamente, a terceira maior quebra de uma empresa nos Estados Unidos. Fica somente atrás do quarto maior banco norte-americano, o Lehman Brothers Holdings, que também pediu concordata em 2008, e da segunda maior empresa de telecomunicações, a WorldCom Inc., que decretou falência em 2002 depois de uma fraude financeira.

Concordata é um recurso jurídico que uma empresa pede quando que não tem dinheiro para pagar suas dívidas e, por isso, entra em processo de falência. O juiz então determina que os credores aceitem prazos maiores, dando à indústria um tempo para se reestruturar. Se mesmo assim não honrar seus compromissos, então é decretada a falência.

A GM já havia recebido US$ 19 bilhões (R$ 36,8 bi) do pacote aprovado pelo Congresso norte-americano. E, sob concordata, receberá mais US$ 30,1 bilhões para se reerguer. Em contrapartida, o governo terá o controle inicial de 60% da companhia, podendo inclusive nomear seus principais executivos. Nesse doloroso processo, é previsto o fechamento de fábricas e demissões.

A mudança na gestão inclui a decisão de produzir os carros "verdes", menos poluentes, seguindo a linha asiática e européia. É o atestado de um erro histórico na decisão da GM de investir nos carrões, que consumiam litros de gasolina e poluíam a atmosfera. Carros elétricos, movidos a bateria, hoje são realidade, como o chinês BYD (Build Your Dreams, Construa Seus Sonhos) e o já comercializado indiano G-Wiz.

Neste início do século 21, a indústria automotora, e com ela o próprio capitalismo, passam por profundas mudanças. Países emergentes e a busca de soluções mais criativas para o mercado, ao que tudo indica, irão turbinar os motores da nova economia.

Massacre de Tiananmen


Vinte anos depois, a revolução que a China quer apagar da história
José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia e Comunicação
Reprodução - Wikipédia

Estudantes de Breslau, na Polônia, solidarizaram-se aos chineses, criando um Memorial do Protesto
Há 20 anos, o exército da República Popular da China tomou a praça da Paz Celestial (Tiananmen) e sufocou o maior protesto pró-democracia do século 20 ocorrido no país, que tinha à frente estudantes universitários.

Naquele dia 4 de junho de 1989 correu o mundo a imagem de um homem que, sozinho, tentava impedir o avanço de uma fileira de tanques de guerra. A identidade do homem nunca foi confirmada, nem seu paradeiro descoberto.

Os manifestantes promoviam manifestações na praça, localizada na região central de Pequim, há quase três meses. Eles foram mortos pelos soldados em ruas adjacentes, sem chances de defesa.

Dados oficiais apontam 241 mortos, mas fontes independentes calculam em até 7 mil as vítimas do massacre. Após a repressão, os principais líderes estudantis foram exilados.

Desde então, o regime comunista não somente se absteve de investigar o caso, como se empenhou em apagar o evento da memória das novas gerações, por meio de censura ao assunto em salas de aula e nos meios de comunicação.

Boa parte dos jovens chineses sequer conhece a história de Tiananmen. No aniversário de duas décadas, Pequim proibiu qualquer tipo de comemoração e bloqueou as redes sociais de relacionamento, como blogs, comunicadores instantâneos, emails, YouTube e Twitter, na tentativa de impedir que o assunto seja discutido. Ativistas políticos e familiares de vítimas também são monitorados de perto pelas autoridades chinesas, bem como estrangeiros e jornalistas.

Revolução Cultural e reforma econômica
A China é uma das civilizações mais antigas do planeta, com mais de 5 mil anos de história. Possui também o maior número de habitantes, 1,3 bilhão, o que corresponde a 20% de toda a população da Terra.

Quando os europeus começaram a expansão colonial e mercantil no século 15, a China já dominava a tecnologia mais avançada do planeta, em agricultura e navegação. Foram os chineses que inventaram a bússola, a pólvora, o papel e a imprensa.

Mas a nação asiática pagou um preço alto pelo seu isolamento e pela burocracia estatal, que estagnaram o progresso por séculos.

Já no século 20, o país sofreu com invasões estrangeiras, guerras e uma das mais desastrosas experiências políticas da história, ao se converter ao socialismo em 1949 sob o comando de Mao Tsé-Tung. Na tentativa de reconstruir a sociedade, o programa comunista e a Revolução Cultural resultaram em milhões de chineses mortos de fome ou dizimados pelo Estado, além de uma economia arrasada.

Em 1978, Deng Xiaoping iniciou um processo de reformas econômicas amparada por uma mão de obra barata, modernização de setores agrícolas e industriais e abertura ao capital estrangeiro. Mas, diferente da antiga União Soviética, manteve o controle político com a "mão de ferro" do Partido Comunista.

Juventude insurgente
Foi no clima de abertura política, com a queda do Muro de Berlim, o fim da União Soviética e a ruína dos regimes comunistas no Leste Europeu, que os estudantes chineses ocuparam a praça da Paz Celestial em abril de 1989.

Eles iniciaram o movimento após a morte do líder partidário Hu Yaobang, que apoiava reformas políticas no país. O protesto pacífico pedia a democratização, o fim da corrupção no governo e melhores condições de vida para os estudantes. As passeatas chegaram a reunir mais de 300 mil pessoas.

Durante a visita do ex-presidente russo Mikhail Gorbachev para a cúpula sino-soviética, em maio daquele ano, a imprensa internacional testemunhou um desfile de estudantes e ativistas em greve de fome que desafiavam o sistema comunista. Estava claro, a esta altura, a incapacidade do governo de controlar a situação e sua humilhação perante o mundo.

Nos bastidores, o Partido Comunista Chinês travava uma luta interna a respeito de como responder aos manifestantes. O secretário-geral do Partido Comunista, Zhao Ziyang, o segundo no comando do país, adotou um tom mais conciliador e pacifista, o que lhe custou o cargo.

Ziyang chegou a reunir-se com os líderes do movimento em 19 de maio, pedindo que desocupassem a praça. No dia seguinte, Pequim decretou lei marcial.

Com medo de enfraquecer sua liderança diante o movimento pró-democracia, Deng Xiaoping ordenou então a invasão do exército e a desocupação do praça. Nos dias seguintes ao massacre, outros estudantes foram presos ou executados.

O paradoxo chinês
O que mudou na China desde o massacre da praça da Paz Celestial? Na esfera econômica, o país promoveu, nos últimos anos, um crescimento jamais visto em todo mundo, atraindo investimentos estrangeiros e exportando produtos de baixo custo e quase sem concorrência no mercado internacional.

Com um PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 3,5 trilhões, a China é a terceira maior economia do planeta, atrás somente dos Estados Unidos e do Japão e ultrapassando o Reino Unido e a Alemanha.

Aproximadamente 400 milhões de pessoas deixaram a pobreza nas últimas décadas, boa parte saída dos campos para reforçar um contingente de trabalhadores nas indústrias. Eles trabalham seis a sete dias por semana e 12 horas por dia, fabricando desde produtos piratas até componentes eletrônicos sofisticados.

Para se ter uma ideia dos avanços, na época da Revolução Cultural, em que intelectuais foram obrigados a trabalhar em campos de arroz, a taxa de analfabetismo atingia quase 60% da população. Atualmente, a China apresenta uma educação de primeiro mundo, com pesquisa de ponta e redução do analfabetismo para 4%.

O país também mantém uma estreita relação com os Estados Unidos, país símbolo da democracia moderna. A China é a maior financiadora dos gastos americanos, sobretudo os gastos militares com guerras como a do Iraque, ao mesmo tempo em que tem nos Estados Unidos seu maior mercado consumidor externo. A economia mundial está nas mãos destes dois gigantes.

Por outro lado, o governo de Pequim é autoritário, burocrático e centralizado no Partido Comunista, e endureceu a vigilância e censura após a tragédia de 4 de junho de 1989. O Estado se caracteriza, ainda, pela corrupção, desrespeito aos direitos autorais e restrições às liberdades civis.

Como o país consegue manter uma economia capitalista, baseada na livre iniciativa, sob um regime político ditatorial?

As lições de 1989 fizeram o governo compensar a falta de liberdade com uma pujança financeira e prosperidade, o que parece ter sido a chave para impedir o descontentamento de estudantes e intelectuais no país. Todos estão bem, contanto que não toquem em tabus como Tiananmen e falem em democracia.

Saiba mais
# "O Rio e seu Segredo - a pianista que desafiou Mao" (Objetiva), de Zhu Xiao-Mei: livro de memórias de uma pianista que, no auge da Revolução Cultural, foi impedida de tocar músicas ocidentais e forçada a trabalhar na lavoura.
# "Balzac e a Costureirinha Chinesa" (2002): filme conta a história de dois adolescentes presos e levados a um campo de "reeducação", onde descobrem livros proibidos pelo governo de Mao Tse-tung.

Ameaça nuclear



Coreia do Norte desafia o mundo com armas atômicas


Soldados norte-coreanos em prontidão, num posto de fronteira
Os recentes testes com lançamentos de mísseis nucleares pela Coreia do Norte fazem parte de uma perigosa estratégia que, no cenário pós-Guerra fria, transformou o uso de arsenais nucleares em instrumentos de chantagem internacional.

Um dos objetivos do governo de Pyongyang, capital norte-coreana, é forçar a abertura de um canal de negociação com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para por fim às sanções econômicas que pesam sobre o regime comunista por conta de seu programa nuclear.

A tensão entre os dois países se arrasta desde 2002, quando o ex-presidente George W. Bush incluiu o país asiático no que ele chamou de "eixo do mal", junto com Irã e Iraque.

Outro motivo da provocação seria a política interna. Além de ser um dos países mais pobres da Ásia, a Coreia do Norte sofre com o isolamento político, em razão de sustentar uma ditadura nos moldes soviéticos, centralizadora e militarizada. A ameaça nuclear fortaleceria o governo do chefe do Estado, Kim Jong-il, cuja família controla o poder há meio século.

Desde o último dia 25 de maio, foram realizados um teste nuclear subterrâneo e lançados seis mísseis balísticos e de curto alcance. O resultado foi uma crise diplomática internacional e o risco de novos conflitos armados com a vizinha Coreia do Sul.

A nação socialista violou a resolução 1.718 do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), órgão responsável pela segurança mundial. O documento, aprovado em 14 de outubro de 2006, condenava o programa nuclear norte-coreano por contrariar o tratado de não proliferação de armas nucleares. Desde então, a ONU vem pressionado o país para que suspenda os testes.

Essa não foi a primeira vez que os norte-coreanos desafiaram o mundo. No dia 5 de abril, a Coreia do Norte disparou um míssil de longo alcance, alegando que se tratava do lançamento de um satélite de comunicação. No entanto, o mesmo artefato poderia ser usado para carregar uma ogiva nuclear, o que provocou o endurecimento das sanções ao país.

Guerra-fria
Tanto o perigo nuclear quanto a Coreia do Norte são produtos do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Com a derrota do Eixo, o Japão desocupou a Coreia, que foi dividia em dois países, um sob o controle dos Estados Unidos (Coreia do Sul) e outro ocupado pela antiga União Soviética (Coreia do Norte).

O processo foi semelhante ao que dividiu a Alemanha por 41 anos até a queda do Muro de Berlim.

As duas Coreias travaram uma guerra entre 1950 e 1953, no auge da Guerra Fria, que terminou com um frágil cessar fogo que dura até os dias atuais. Desde o período, marcado pelo perigo iminente de um conflito nuclear, Pyongyang alimenta a ambição de desenvolver armas atômicas.

Com o fim da União Soviética e a derrocada dos regimes comunistas no Leste Europeu, o país sofreu abalos econômicos, do mesmo modo que Cuba. Sem os antigos parceiros comerciais, mergulhou num período de escassez de alimentos que, aliado aos desastres naturais, teria causado a morte de cerca de dois milhões de norte-coreanos nos anos de 1990. A Coreia do Norte possui estimados 23,5 milhões de habitantes.

Tensão na fronteira
Desde o final dos anos de 1960, nações assinam acordos para controlarem arsenais nucleares do planeta.

Atualmente, Rússia, Estados Unidos, Reino Unido, China, França, Israel, Índia e Paquistão são considerados potências nucleares. Completam a lista Coreia do Norte e Irã, que sofrem pressões e embargos para que abandonem seus programas.

Diferente da época da corrida armamentista, as bombas nucleares atuais são mais "inteligentes". Elas visam alvos estratégicos, com precisão e impacto localizado. Os testes de armamentos também são mais restritos, para evitar danos ambientais.

Os riscos, mais do que uma guerra nuclear, são de acidentes em usinas sucateadas e, principalmente, que países como Irã e Coreia do Norte repassem a tecnologia para grupos extremistas e redes terroristas, como a Al-Qaeda.

Para os vizinhos e inimigos do líder Kim Jong-il, Coreia do Sul e Japão, as intimidações são reais, pois o país tem capacidade de lançar mísseis de submarinos ou aviões. As ameaças também podem levar os governos japoneses e sul-coreanos a desenvolverem armamento nuclear, contrariando as leis internacionais que impedem a produção de mais bombas atômicas.

Até agora, tudo indica que a Coreia do Norte não seja capaz de miniaturizar uma ogiva nuclear, permitindo que seja disparada por um míssil de longo alcance que possa atingir, por exemplo, os Estados Unidos.

Saída diplomática
O Conselho de Segurança da ONU estuda novas sanções à Coreia do Norte como retaliação aos últimos lançamentos de foguetes em seu território. Porém, medidas similares não surtiram efeitos anteriormente.

Apesar de o país ter sérios problemas sociais, de abastecimento de energia e econômicos, agravados com os embargos da ONU, nada disso impediu que o governo norte-coreano levasse adiante seu programa nuclear.

Kim Jong-il alega que os testes teriam fins de defesa militar. Porém, a Coreia do Norte possui o quarto maior exército do mundo, com estimados 1, 2 milhão de soldados, munido de poderoso arsenal bélico.

Há ainda um delicado equilíbrio financeiro na Ásia, em meio a uma crise econômica mundial, que precisa ser preservado. A China, que faz fronteira e é aliada comercial e política da Coreia do Norte, é uma importante peça no tabuleiro da geopolítica internacional.

Por todos estes motivos, tanto Kim Jong-il quanto Obama tendem mais para uma conciliação e uma saída pacífica para o impasse, com o intermédio da ONU. A solução diplomática parece ser, portanto, a mais viável para a desnuclearização da Coreia do Norte e, futuramente, do Irã.