Oriente Médio


Outubro sangrento coloca em xeque guerras dos Estados Unidos


Tropa americana patrulha vila no Afeganistão em 19 de outubro de 2009
O mês de outubro de 2009 foi o mais violento no Iraque e no Afeganistão, palcos da "guerra contra o terror" promovida pelos Estados Unidos há quase dez anos. As mortes de iraquianos e americanos desestabilizam tanto os processos de transição política quanto a estratégia da Casa Branca de realocar recursos de uma guerra para outra. Direto ao ponto: Ficha-resumo)

O caso mais grave aconteceu na capital do Iraque. Um duplo atentado terrorista matou 155 pessoas, incluindo 24 crianças, e deixou centenas de feridos na explosão de carros-bomba em prédios do governo em Bagdá. Foi o pior ataque em dois anos.

As explosões, ocorridas no último domingo (25 de outubro), teriam como objetivo emperrar discussões sobre a reforma eleitoral, que vai regular as eleições marcadas para janeiro. Os atentados também aumentaram a tensão com os países vizinhos, principalmente a Síria, acusada pelo governo iraquiano de abrigar terroristas.

No dia seguinte, 14 americanos morreram na queda de helicópteros no Afeganistão. Na terça-feira (27), foram registradas mais oito baixas em confrontos, subindo para 55 o número de mortes no mês.

Os incidentes aconteceram a poucos dias do segundo turno das eleições presidenciais, marcado para 7 de novembro. O pleito será disputado entre o atual presidente, Hamid Karzai, e o ex-ministro de Relações Exteriores, Abdullah Abdullah. No primeiro turno, houve denúncias de fraudes.

As eleições no Iraque e no Afeganistão visam trazer estabilidade política aos países, ponto considerado fundamental para que os Estados Unidos encerrem as ocupações. Mas os ataques terroristas no Iraque e o crescimento do índice de soldados mortos no Afeganistão (num ano já considerado o mais mortífero desde o início da guerra) complicam ainda mais a situação no Oriente Médio.

A violência também afetou a estratégia do presidente Barack Obama de transferência dos recursos do Iraque para o Afeganistão. Nas próximas semanas, Obama deve decidir se aumenta o efetivo em mais de 40 mil soldados no território afegão. Porém, ele enfrenta oposição de quase metade da população americana e de setores do próprio governo, que duvidam que o reforço militar irá contribuir para trazer mais segurança ao país mulçumano.

Petróleo
Juntas, as guerras do Iraque e Afeganistão já mataram mais de 5 mil americanos e somam, segundo relatório do Congresso dos Estados Unidos, US$ 864 bilhões de gastos aos cofres públicos (74% deste total no Iraque, 22% no Afeganistão e os 4% restantes em gastos diversos). Especialistas estimam que as despesas irão ultrapassar US$ 1 trilhão, em plena época de recessão econômica.

Passados nove anos de guerra no Afeganistão e sete no Iraque, a impressão hoje é a de que os Estados Unidos subestimaram a resistência dos radicais mulçumanos e se meteram em outro atoleiro. Os dois conflitos já são mais longos que a participação dos americanos na Primeira (dois anos e dois meses) e Segunda Guerra Mundial (três anos e oito meses) e na Guerra da Coreia (três anos e um mês). E, por enquanto, somente inferior à participação na Guerra do Vietnã (doze anos).

As batalhas foram iniciadas no governo de George W. Bush (2001-2009), na sequência dos atentados de 11 de Setembro. A campanha militar no Afeganistão começou em 7 de outubro de 2001, com o objetivo de capturar Osama Bin Laden, líder da rede terrorista Al Qaeda. No caso do Iraque, a invasão em 19 de março de 2003 foi justificada pela suposta posse de armas de destruição em massa pelo governo de Saddan Hussein, que nunca foram encontradas.

De modo geral, a administração Bush alegava que as incursões militares tinham a intenção de democratizar os países, que viviam sob ditaduras, e combater os grupos terroristas. Especialistas, por outro lado, apontam interesses econômicos em reservas de petróleo e derivados como a principal razão por trás da "guerra contra o terror".

Mas por que essas guerras duram tanto tempo e por que é tão difícil encontrar uma saída para os conflitos?

Taleban
Tanto o Afeganistão quanto o Iraque são países divididos por grupos étnicos e religiosos que viveram séculos sob ocupação estrangeira e nunca conheceram a democracia ocidental ou uma paz duradoura. São também terras ricas em minérios e que ocupam posições estratégicas na geopolítica do Oriente Médio, o que desperta a cobiça de grandes potências mundiais.

Localizado na Ásia central, o Afeganistão faz fronteira com Paquistão, Irã e China. O país possui 32,7 milhões de habitantes, 70% vivendo em condição de pobreza. O que une os diferentes grupos étnicos é a religião mulçumana (80% sunita e o restante xiita).

A maior renda vem do ópio (matéria-prima da heroína), pois o Afeganistão concentra 93% da produção mundial dessa substância, que corresponde a 30% do Produto Interno Bruto (PIB), além de ser a principal fonte de financiamento do Taleban.

Durante a Guerra Fria, o país permaneceu vinte anos sob ocupação da ex-URSS (1979-1989). Neste período, os mujahedin (combatentes islâmicos) receberam apoio da CIA, o serviço secreto americano, para lutar contra as tropas russas.

Quando, finalmente, o Exército Vermelho deixou Cabul, a capital, estourou uma guerra civil entre facções rivais. As lutas só terminaram após o Taleban, grupo nacionalista mulçumano de etnia pashtu, tomar o poder em 1996. Hoje, estima-se que os extremistas ainda controlem até 70% das terras afegãs.

Saddam
Já o Iraque possui uma das culturas mais antigas do mundo, que remonta há 10 mil anos. O território abrigou as primeiras civilizações humanas, que criaram o alfabeto cuneiforme e o primeiro código de leis, a Lei do Talião ("olho por olho, dente por dente").

Diferente do Afeganistão, a maior parte dos 31,2 milhões de habitantes são mulçumanos xiitas (60%), embora os sunitas tenham governado o país ao longo da história.

O Iraque ficou quase quatro séculos sob domínio do Império Otomano (1533-1918), até que a região foi dividida ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e o país se tornou colônia do Reino Unido. O período monárquico durou de 1921 a 1958, quando a família real foi assassinada, depois de um golpe de Estado.

Em julho de 1968, um novo golpe, conduzido pelo Partido Socialista Árabe Baath, levou ao poder o líder sunita Saddam Hussein, primeiro como vice-presidente e, a partir de 1979, como presidente. Os 24 anos de regime de Saddam foram marcados pelo culto à personalidade, perseguição a etnias (curdos e xiitas) e massacres, incluindo três guerras no Golfo Pérsico.

A primeira Guerra do Golfo foi travada contra o Irã (1980 a 1988) depois que a Revolução Islâmica, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khoemini (1900-1989), depôs a monarquia iraniana, alinhada ao Ocidente. O ditador iraquiano tinha então apoio financeiro de Washington.

Endividado ao final dos conflitos, Saddan invadiu o Kuwait em 1990, país vizinho credor e rico em petróleo. Uma coalizão militar internacional, tendo à frente os Estados Unidos, expulsou o exército iraquiano do Kuwait. Seguiu-se um período de sanções econômicas até a terceira guerra no Golfo, em 2003, contra os americanos.

Retirada
Para os Estados Unidos, o maior triunfo das atuais guerras foi a captura de Saddan Hussein, em dezembro de 2003. O ditador estava escondido em um buraco após ter escapado do cerco à capital. Ele foi julgado, condenado à morte e enforcado em 31 de dezembro de 2006.

No entanto, a justificativa fraudulenta para a invasão do Iraque e o escândalo de abusos contra detentos na prisão iraquiana de Abu Ghraib mancharam a imagem dos EUA perante o mundo.

Com o Iraque ocupado e alvo de sucessivos ataques terroristas, realizaram-se em 2005 as primeiras eleições presidenciais e parlamentares. Neste ano, Obama anunciou a desocupação total até o final de 2011 e, em junho, o exército americano deixou as ruas, que passaram a ser patrulhadas por forças iraquianas.

Para Cabul, prioridade atual do governo americano, o plano também é garantir que o governo local tenha condições de manter o controle após a retirada das tropas. O problema, tanto no Iraque quanto no Afeganistão, é que os americanos não são vistos como "salvadores da pátria" por libertarem os países das ditaduras de Saddan e do Taleban, mas como invasores.

Quase uma década depois, os Estados Unidos não conseguiram pacificar o Iraque nem capturar Osama Bin Laden. Nem é certo que os países invadidos não mergulhem novamente em guerras civis e étnicas após os americanos deixarem o front, nem que a Al Qaeda, um grupo que age internacionalmente, não volte a atacar. Em todos os cenários mais realistas, serão guerras perdidas para o Tio Sam.

Violência no Rio de Janeiro



Desafio do Estado é vencer o tráfico


A CPI da Violência Urbana da Câmara Federal ouviu Cláudio Chaves Beato Filho, da UFRJ, em 21/10/2009
Quinze dias após ter sido escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o Rio de Janeiro voltou a ser notícia na imprensa internacional. Desta vez, por conta de um velho problema: a violência urbana. Direto ao ponto: Ficha-resumo

No dia 17 de outubro de 2009, traficantes atiraram contra um helicóptero da polícia. O piloto tentou fazer um pouso forçado, mas a aeronave explodiu, matando três policiais. O atentado aconteceu durante uma tentativa de invasão ao morro dos Macacos, Zona Norte, por criminosos do Comando Vermelho, que dominam o tráfico no morro vizinho.

Além dos policiais, três trabalhadores e mais 19 bandidos morreram, totalizando 25 mortes em quatro dias. Os criminosos também queimaram oito ônibus, para desviar a atenção da polícia.

Apesar de grave, o episódio não é novidade no cotidiano carioca. Em 16 de novembro de 1984, outro helicóptero da polícia foi derrubado em uma operação no morro do Juramento. Confrontos entre traficantes e policiais também são frequentes desde que as autoridades resolveram retomar territórios controlados pelo tráfico.

O que chamou a atenção foi o fato ocorrer logo após a cidade ter ganhado a disputa para sediar os Jogos Olímpicos. Isso levou a imprensa estrangeira a questionar a capacidade do governo carioca em oferecer segurança aos atletas durante o evento.

Os Jogos Olímpicos podem até forçar o Estado a resolver, em sete anos, um problema que já dura 25. Mas a questão mais importante hoje é como o governo pode oferecer segurança para a população, acuada nos conflitos armados entre policiais e bandidos.

Com o recrudescimento da situação, neste mês de outubro, a Comissão Parlamentar de Inquérito da Violência Urbana da Câmara Federal ouviu Cláudio Chaves Beato Filho, coordenador-geral do Centro de Estudos de Criminalidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o deputado federal Fernando Gabeira.

Tráfico de drogas
O Rio de Janeiro é a segunda maior cidade do país, com 6,2 milhões de habitantes. A metrópole, que foi capital do Brasil de 1763 até 1960, é também o principal destino de turistas estrangeiros. Por isso, funciona como uma espécie de "vitrine" do país para o mundo.

A violência urbana no município é associada ao tráfico de drogas. De acordo com dados de 2008 do Ministério da Justiça, o Rio de Janeiro é o quinto estado brasileiro com maior taxa de homicídios, com 33 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, ficando atrás de Alagoas (66,2), Espírito Santo (56,7), Pernambuco (48,5) e Pará (39,8).

Por outro lado, possui, de longe, a polícia que mais mata. Em 2008, foram 1.137 mortos em confrontos com a polícia, taxa sete vezes maior que qualquer outra região do país. Os gastos totais em segurança somam 12% do orçamento do Estado, quase o dobro de São Paulo (7,4%) e pouco menor que o de Minas Gerais (12,5%).

Mas o tráfico, por si só, não justifica o alto índice de criminalidade. Praticamente todas as grandes metrópoles do mundo possuem comércio ilegal de drogas. Estima-se que o mercado consumidor de cocaína em Nova York, por exemplo, seja duas vezes maior que o Rio. A diferença é que nem a cidade americana nem outras europeias testemunham quase que diariamente cenas de guerra nas ruas, como acontece no Rio. Como explicar isso?

A resposta é que, no Rio, facções armadas travam lutas pelo controle de territórios, favorecidas por uma rede de corrupção e pelo descaso histórico do poder público em relação às favelas nos morros cariocas.

Para que a situação chegasse a esse ponto, cinco fatores foram decisivos: o aumento da oferta e demanda no mercado da cocaína, o surgimento das facções criminosas durante o regime militar (1964-1985), o crescimento das favelas, a corrupção de setores públicos e privados e medidas repressivas e eleitoreiras sem efeito prático.

Comando Vermelho
Até meados dos anos 1970, o tráfico de drogas no Rio se restringia à venda de maconha, plantada no Nordeste do país, para presos, favelados e boêmios, num esquema amador. Entre o final dos anos 1970 e começo dos 1980, a cocaína colombiana chegou ao país a preços acessíveis, proporcionando lucros rápidos e altos para as quadrilhas. Era o início da era do tráfico de drogas internacional, que tornaria a América Latina o principal produtor e exportador de cocaína no mundo.

Para organizar o tráfico e controlar os pontos de vendas no varejo, facções criminosas surgidas nos presídios passaram a disputar os territórios nos morros, objetivando ampliar o mercado e obter ganhos maiores. Quanto mais próximo o morro está de bairros de classe média, ou seja, do consumidor, mais valorizado é o ponto. E, como o negócio é ilegal, os métodos violentos dos traficantes cariocas foram adotados tanto para cobrar devedores e intimidar moradores, quanto para proteger as "bocas" de concorrentes.

A primeira facção surgiu durante a ditadura militar. Com o aumento de assaltos a bancos e sequestros para financiar guerrilhas de esquerda, o governo decretou, em 1969, a Lei de Segurança Nacional. Com isso, alguns presos políticos foram levados para o Presídio de Ilha Grande, desativado em 1994, onde dividiam as celas com presos comuns.

Com o tempo, os detentos passaram a incorporar as táticas dos prisioneiros políticos para dominar a população carcerária. Foi desse modo que, nos anos 1970, nasceu a Falange Vermelha, mais tarde chamada de Comando Vermelho.

Fora dos presídios, os bandidos começaram a planejar assaltos e sequestros para financiar a libertação de líderes presos e garantir regalias dentro das penitenciárias. Com a chegada da cocaína, passaram também a coordenar o tráfico de drogas, mais rentável e, de certo modo, mais seguro, se comparado a outras modalidades de crimes.

A partir de 1986, disputas internas no Comando Vermelho levaram à criação de facções rivais, como o Terceiro Comando e o Amigos dos Amigos, o que gerou mais violência. Os traficantes começaram a se equipar com armamento cada vez mais pesado, de uso exclusivo das Forças Armadas, e a cooptar "soldados" e "vapores" (vendedores de drogas) cada vez mais jovens entre as comunidades.

Os donos do morro
Nesse sentido, as favelas dos morros cariocas desempenharam uma função estratégica para os traficantes. Elas cresceram durante os anos 1960, quando o Rio viveu um processo de rápida urbanização e migração, sem que houvesse um planejamento econômico para atender a população.

Na ausência do Estado, os donos do morro - como são conhecidos os traficantes responsáveis pela distribuição de drogas no varejo - se tornaram as figuras mais importantes dentro das favelas. Em troca do silêncio dos moradores, os traficantes mantém a ordem e praticam o assistencialismo, distribuindo produtos como remédios e cestas básicas, além de promoverem festas e bailes funks.

A carência ainda forneceu às quadrilhas mão de obra barata para o negócio ilegal. Para milhares de jovens, sem oportunidades de estudo ou emprego, o tráfico se tornou a única via de acesso a bens de consumo e até mesmo de sustento para suas famílias. Outros fatores, como o glamour do banditismo e o vício em drogas, também acabaram envolvendo jovens de classe média e alta no crime organizado.

Outra vantagem importante que os morros oferecem aos traficantes é a topologia. Do alto das favelas, os bandidos conseguem monitorar a entrada de viaturas policiais e se prevenir. A ocupação irregular das favelas (são cerca de 800), com ruas estreitas, becos, esconderijos e dezenas de entradas e saídas, também dificulta o trabalho da polícia.

Corrupção
Os maiores líderes da facção, porém, estão em presídios de segurança máxima, de onde ainda controlam o tráfico e outras atividades criminosas, por meio de aparelhos celulares e visitas de parentes e advogados.

Por esta razão, outro componente importante na engrenagem do tráfico é a corrupção de órgãos do governo e instituições privadas. O dinheiro do tráfico financia desde a proteção de policiais e conivência de agentes penitenciários até a compra de sentenças de juízes.

Apesar de os donos do morro ficarem famosos na imprensa, como no caso do traficante Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP (veja livro indicado abaixo), quem alimenta o tráfico carioca são os atacadistas. Eles possuem contatos e influência junto a governos, empresas e instituições bancárias, para conseguirem lavar o dinheiro resultante do comércio ilícito de drogas.

São os atacadistas que fazem o tráfico internacional, tanto de drogas quanto de armas, e poucos são os traficantes que conseguem atingir essa posição. Estima-se que somente 20% da cocaína que chega ao Rio abasteça o mercado interno; a maior parte tem como destino a Europa.

Como resolver
Nos últimos anos, com a violência cada vez mais próxima da classe média e a consequente mobilização de setores da sociedade civil, os governos tiveram que mudar de estratégia. Chegou-se à conclusão de que era preciso retomar a presença do Estado nos morros, por intermédio da polícia comunitária, e do combate à exclusão, com programas sociais.

Porém, a solução para a criminalidade no Rio de Janeiro, que, conforme visto, possui raízes históricas e atravessa sucessivas administrações, não é fácil ou rápida. Por outro lado, também não existe nenhuma fórmula mágica que precise ser descoberta.

Segundo especialistas, a solução envolve duas frentes contínuas de ação: uma policial e outra social. Na policial, o foco na repressão e reação aos ataques tem efeitos colaterais indesejáveis, com a morte de policiais e pessoas inocentes em tiroteios com traficantes. Para evitar isso, seriam necessários investimentos em inteligência e operações preventivas.

Mais importante que a polícia concentrar esforços no combate ao varejo é a investigação dos atacadistas. De nada adianta a polícia prender os chefes do tráfico, pois eles são substituídos por outros ou continuam liderando os grupos de dentro dos presídios. Sendo assim, seria mais eficiente sufocar as rotas de comércio ilegal de armas e drogas, impedindo que os produtos cheguem aos morros.

Para se chegar a esses atacadistas, serão necessários mecanismos mais rigorosos de controle da corrupção, que passam pela investigação de redes de lavagem de dinheiro e a punição de empresários, políticos, funcionários públicos e juízes envolvidos com o tráfico, conforme apontado pela CPI do Narcotráfico.

Do ponto de vista social, o governo precisa oferecer alternativas de renda viáveis e concretas para os jovens que moram nas favelas. Com oportunidades de emprego, boa parte deles deixaria de ser mão de obra para as quadrilhas nas favelas.

Espera-se que, pelo menos com a visibilidade que o Rio ganhará com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, um passo seja dado nessa direção.

ENEM - 2009

Desmatamento em pauta, com urgência

Os números do desmatamento na Amazônia registram queda de 88% em maio deste ano em relação ao mesmo período de 2008, segundo matéria publicada na Agência Brasil. Este ano, o desmatamento atingiu uma área de 123 km², de acordo com relatório do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No ano passado, o Inpe registrou 1.096 km² de desmate.

Ainda segundo o relatório, a cobertura de nuvens na região no período permitiu a visualização de 38% da área, situação melhor do que nos três meses anteriores, quando os satélites só conseguiram observar cerca de 20% da floresta por causa das nuvens.

Mesmo com boas notícias, velhos problemas continuam intactos. O Mato Grosso voltou a liderar a lista de maiores desmatadores, com 61,2 km² de florestas derrubadas em maio, cerca de 50% do total verificado no mês em toda a região. No entanto, o Inpe pondera que a taxa de desmate foi elevada por causa da baixa quantidade de nuvens sobre o território mato-grossense, que deu boas condições de observação, diferentemente do que ocorreu em outros estados.

Em Roraima, foram desmatados 17,7 km² e no Maranhão, 17,6 km². Os estados de Rondônia e do Pará, que ocupavam os primeiros lugares nos últimos rankings, só aparecem em seguida, com 11,7 km² e 10,5km² de devastação, respectivamente. A medição do Deter considera as áreas que sofreram corte raso (desmate completo) e as que estão em degradação progressiva. O sistema serve de alerta para as ações de fiscalização e controle dos órgãos ambientais. A redução verificada pelo Deter deve ter influência na taxa anual de desmatamento, medida pelo Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes). O número atual é de 11,9 mil km².

Mas, apesar dos ares importantes de mudança, é importante ressaltar que as estatísticas do desmatamento na Amazônia ainda são bastante preocupantes, especialmente porque durante décadas os níveis de desmatamento se mantiveram assustadores, e ainda o são. De agosto de 2008 até maio de 2009, o Deter já registrou 2.957 km² de desmatamento na região. Ou seja, pode-se comemorar, mas com moderação e consciência, já que a queda foi verificada sobre índices altíssimos. Ainda estamos muito distantes do ideal, já que, ao invés de recuperar, ainda estamos na fase de perder áreas de florestas.

Um exemplo prático disso foi uma outra notícia, apresentada ao Ministério do Meio Ambiente na terça-feira. Um estudo de organizações não governamentais, revelado ontem ao ministro da pasta, Carlos Minc, revela que o Pantanal já perdeu 40% de sua cobertura vegetal. Elaborado pelas ONGs WWF Brasil, SOS Mata Atlântica, Conservação Internacional, Anvina e Ecoa, o mapeamento mostra que o bioma tem sofrido forte pressão em função de atividades como pecuária, plantio de cana e exploração mineral.

Segundo o estudo, a ampliação das pastagens, que tem sido muito discutida após a divulgação do relatório A Farra do Boi (do Greenpeace), é uma das principais causas do desmatamento na região. Em seis anos, (2002 a 2008) já foram abertos 12 mil Km2 de novos pastos na região, o equivalente a dez vezes a área do estado do Rio de Janeiro. De acordo com uma matéria publicada no site Ambiente Brasil, Minc destacou a importância do levantamento e disse que é necessário agir rapidamente para evitar que a situação no bioma Pantanal se agrave. O ministro afirmou ainda que o MMA já iniciou o monitoramento por satélite do desmatamento no bioma e vai articular com apoio da sociedade civil estratégias de ações para atuação na região. Ele também considerou fundamental que seja realizado um planejamento integrado da bacia hidrográfica do Alto Paraguai cujas águas formam o Pantanal mato-grossense, uma das maiores planícies de inundação do mundo.