Gripe suína



Mundo enfrenta risco de uma nova pandemia


O presidente do México, Felipe Calderón, em sessão Extraordinária do Conselho Nacional de Saúde

A gripe suína, que já matou sete pessoas no México (de um total de 152 mortes suspeitas), uma nos Estados Unidos e pode ter infectado quase 2 mil em mais 11 países, deixou em alerta as autoridades para os riscos de uma nova pandemia. No Brasil, 20 pessoas com sintomas e que estiveram nos países com casos confirmados da doença estão sendo monitoradas.

A OMS (Organização Mundial da Saúde), que monitora em todo mundo o vírus influenza, causador da gripe, deve elevar o alerta que hoje é nível 4 (numa escala que vai até 6), o que significa que a pandemia é iminente.


Pandemia
Pandemia ocorre quando há uma contaminação global por uma doença. No caso de uma gripe, acontece quando surge um novo tipo de vírus, frente ao qual o homem não possui defesas imunológicas e nem existem vacinas específicas para combater a doença. Por esse motivo, pode causar milhares de mortes.

As pandemias de gripe são provocadas por uma mutação aleatória de vírus existentes nos organismos de animais selvagens ou domesticados, que passam também a infectar seres humanos. No organismo humano, o vírus sofre nova mutação, o que o torna letal.

No caso de uma gripe comum, a receita mais famosa é "vitamina C e cama", ou seja, é preciso repousar e fortalecer as defesas do organismo para que ele dê conta do "invasor" (com exceção dos idosos, recém-nascidos e portadores de doenças que enfraquecem o sistema imunológico).

Já com a gripe suína, cujo vírus é uma combinação de genes de porcos, aves e humanos, o corpo não tem defesas, pelo fato de desconhecer o "inimigo".

Como esse tipo de gripe se transmite de pessoa para pessoa, do mesmo modo de uma gripe comum (pelo contato com secreções de pacientes infectados), e o tempo de incubação é curto, a doença se espalha rapidamente.


Gripe espanhola
Embora ocorram com certa regularidade na história, os cientistas só passaram a conhecer melhor as pandemias de gripe a partir das três registradas no século 20, em 1918, 1957 e 1968.

Essas gripes, apesar dos sintomas parecidos, não devem ser confundidas com aquelas que pegamos no inverno, conhecidas como sazonais. O vírus influenza é classificado em três tipos: A, B e C. A gripe comum é de tipo C, e as de tipo A são as mais perigosas, que provocam pandemias.

Existem quatro subtipos de influenza A conhecidos que provocam contágio entre humanos e estão em constante mutação: H1NI, H1N2, H3N2 e H7N2.

Não faz parte desse grupo, por exemplo, a chamada gripe aviária (H5N1), que contamina aves domésticas (frangos, patos, galinhas), cujo contágio se dá apenas com o contato com secreções do animal infectado e não entre pessoas, como a suína. Mesmo assim, desde 2003 matou 257 de 421 pessoas infectadas (61%), segundo a OMS.

A gripe suína atual é uma nova cepa (grupo de organismos dentro de uma espécie) do tipo H1N1. Esse vírus, bem como todos os demais subtipos A, são descendentes da pior de todas as pandemias registradas: a "gripe espanhola", que entre 1918 e 1919 matou 50 milhões de pessoas no mundo e contaminou um terço da população mundial (500 milhões), que era um quarto da atual.

Na época não havia nem antigripais nem antibióticos, o que contribuiu para o grande número de mortos. Em comparação, a pandemia de 1957-1958 deixou entre 1 e 2 milhões de mortos e a última, entre 1968-1969, considerada leve, 700 mil.

Ainda hoje, os cientistas sabem pouco sobre a "mãe" das pandemias. Somente em 1930 foi isolado o primeiro vírus da "gripe espanhola", justamente a suína (H1N1). A "gripe asiática" de 1957 é do tipo H1N2, descendente da suína.


Economia
O que vai determinar se a nova cepa de gripe suína vai se tornar a próxima pandemia, segundo especialistas, é: a) o quão adaptado (e mortal) o vírus pode se tornar no organismo humano e b) se continuar acontecendo a transmissão de pessoa para pessoa.

As pandemias passam por ondas que podem durar de seis a oito semanas. Na "gripe espanhola", por exemplo, a primeira onda foi mais branda e a segunda, mais letal. Pelo comportamento da epidemia atual, cujos casos fatais se restringem ao México e um bebê morto nos Estados Unidos, espera-se que a nova pandemia, caso se confirme, será considerada leve, isto é, com baixa mortalidade.

Além do risco de mortes, a doença também traz prejuízos à economia, o que pode vir a agravar ainda mais a crise econômica global.

No México, onde as primeiras mortes foram confirmadas em 24 de abril, escolas e comércio foram fechados e todos os eventos públicos cancelados, na tentativa de conter o avanço da doença.

Outros países emitiram alertas contra viagens com destino a países afetados pela gripe, como no caso do Brasil, ou adotaram medidas restritivas, como nos casos da Argentina e Cuba, afetando o turismo internacional.

A indústria de produtos suínos também contabiliza perdas, apesar do Ministério da Saúde ter descartado qualquer possibilidade de contaminação pelo consumo de carne (cujo cozimento mata qualquer tipo de vírus) ou de produtos que contenham carne suína. Em outras palavras, não se pega a doença comendo feijoada, torresmo ou cachorro-quente.


O que fazer
Os antivirais Tamiflu e Relenza são eficazes quando administrados em até 48 horas depois do aparecimento dos primeiros sintomas e previnem no caso de pessoas mais expostas ao risco de contágio. Mas o uso indiscriminado pode causar efeito contrário, fortalecendo o vírus.

Não se sabe ao certo se vacinas existentes terão algum efeito, em razão das mutações do vírus, nem sobre possíveis efeitos colaterais. Uma vacina específica contra a gripe suína levará meses para ser feita, conforme informou o governo norte-americano.

Como prevenção, autoridades sanitárias recomendam lavar as mãos - para evitar contato indireto com a doença -, além do uso de máscaras em regiões mais afetadas pela gripe.

O Brasil possui um Plano de Contingência (Plano de Preparação Brasileiro para o Enfrentamento de uma Pandemia de Influenza) que prevê estoque de antivirais, produção de vacina, controle de fronteiras e reforço de redes assistenciais. Entretanto, diante das condições precárias de boa parte dos serviços públicos de saúde, é duvidoso que tenha capacidade de atender uma demanda urgente.

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